ADILSON SIMAS - Jornalista, editor do Blog Por Simas, Santanopolitano
A primeira festa momesca em Feira com o nome Micareta foi aberta no sábado, 27 de março de 1937, com o mesmo ritual dos tempos atuais: coroação das majestades e entrega das “chaves” da cidade ao Rei Momo. Era prefeito, Heráclito Dias de Carvalho.
A primeira festa momesca em Feira com o nome Micareta foi aberta no sábado, 27 de março de 1937, com o mesmo ritual dos tempos atuais: coroação das majestades e entrega das “chaves” da cidade ao Rei Momo. Era prefeito, Heráclito Dias de Carvalho.
Nos clubes,
principalmente ‘25 de Março’ e ‘Victória’, na famosa ‘Rua Direita’, hoje
Conselheiro Franco, foram realizados bailes a fantasia reunindo a sociedade
local, da região e até gente da ‘Bahia’ (alusão aos moradores da capital).
Nas ruas, em especial
também na ‘Rua Direita’, que foi o primeiro ‘quartel general’ da folia, blocos,
cordões, mascarados e batucadas (‘As Melindrosas’, ‘Flor do Carnaval’, ‘Amantes
do Sol’, etc) se encarregaram de encher de brilho o que hoje se denomina ‘sitio
da festa’.
Ao longo do tempo, a
micareta deixou de acontecer em razão da Segunda Guerra Mundial, e em 1964 por
conta do ‘Golpe Março’. Mas em 1945 só não houve folia de rua, pois a ‘25 de
Março’ publicou edital anunciando a realização de quatro grandes bailes.
Concebida por
personalidades notáveis da cidade, como Antonio Garcia, João Bojô, Mestre
Narcisio, Maneca Ferreira, Manuel de Emilia, Álvaro Moura, Arlindo Ferreira e
seguidores como Oscar Marques, Gilberto Costa, Carlos Marques, Ildes Meireles,
Joselito Julião Dias, Osvaldo Franco e tantos outros escolhidos para
presidi-la, a maior micareta do Brasil, cresceu e avançou.
No começo dos anos 70, na
gestão do prefeito Newton Falcão, a prefeitura criou uma diretoria especial e
assumiu totalmente a festa em 1971, “aposentando” as tradicionais comissões
organizadoras, que com o famoso “livro de ouro” visitavam pessoas e empresas
buscando os recursos que bancavam a folia.
Ainda naquela década o
prefeito José Falcão criou a Secretaria de Turismo para cuidar de toda a
programação. Na sequência, em 1975, instituiu concurso para a escolha do Rei
Momo, não mais trazendo ‘Ferreirinha’, o Rei Momo do carnaval de Salvador. Já o
prefeito Colbert Martins criou os primeiros camarotes e arquibancadas.
A micareta soube acompanhar
os avanços da cidade. Os bailes à fantasia trocaram os salões da ’25 de Março’
e ‘Victória’, pelos amplos e modernos da Euterpe Feirense, Feira Tênis Clube,
Clube de Campo Cajueiro e outros menores como Clube dos Comerciários, Ali Babá,
Clube dos Sargentos e Clube dos Trabalhadores. Ressalte-se que Tênis e
Cajueiro, criaram os bailes pré-micaretescos, ‘Uma Noite no Hawaí’ e ‘Caju de
Ouro’, respectivamente.
Os desfiles e a animação
popular, no começo na ‘Rua Direita’ (desde a Conselheiro Franco até a
Tertuliano Carneiro), chegaram às praças da Bandeira e João Pedreira, se
expandiram pela avenida Senhor dos Passos e quando davam sinais que ocupariam
toda a extensão da longa avenida Getúlio Vargas, foram transferidos em 2000, na
última micareta do milênio, para a avenida Presidente Dutra, na administração
do prefeito Clailton Mascarenhas, que promoveu as primeiras melhorias.
Eunice Boaventura foi a
primeira rainha da Micareta de Feira
O espetáculo do préstito
momesco com ricos carros alegóricos (os últimos nasceram da imaginação do
artista Charles Albert), conduzindo rainha e princesas arrancando aplausos –
entre elas e em tempos diferentes, Eunice Boaventura, Doralise Bastos, Helenita
Tavares, Sonia Cerqueira, Alda Lima Coelho, Maria Angélica Caribé, Ana Maria
Nascimento e Sônia Menezes – cederam lugar aos carros sonoros conduzindo moças
e rapazes com coloridas mortalhas do ‘Bloco do Caju’, ‘Fetecê’, ‘Mendonça’ e
outros.
Os blocos e batucadas,
das primeiras folias, foram ganhando sucedâneos, de diversas origens, como
o ‘Pinta Lá’, dos servidores públicos
municipais; os trio-elétricos, como o pioneiro ‘Patury’ de Péricles Soledade,
nos anos 50, deram lugar a máquinas potentes como a da banda ‘Chiclete com
Banana’; as marchinhas de compositores da cidade (Carlos Marques, Juca
Oliveira, Estevam Moura, Gastão Guimarães, Eliziário Santana, Adalardo Barreto,
Arlindo Pitombo, Aloísio Resende, Dival Pitombo, Alpiniano Reis, Honorato
Bonfim e outros), saíram de cena dando espaço a letras interpretadas por
‘furacões’ como Ivete Sangalo.
As escolas de samba e os
cordões de antigas micaretas abriram alas para ‘Malandros do Morro’, ‘Unidos de
Padre Ovídio’, ‘Império Feirense’, ‘Os Formidáveis’ e ‘Marquês do Sapucaí’, que
à exemplo das antecessoras entregavam a autoria dos seus enredos à nova geração
de compositores da terra, entre eles Carlos Piter, Vadu, Roberto Pitombo, Edson
Bonfim, geralmente pregando o grito de liberdade, ou exaltando o mundo do
candomblé.
Eventos que anunciavam
mais uma festa de momo, como ‘Grito de Micareta nos Bairros’ com os cantores
locais interpretando antigas e novas marchas e ranchos e o ‘Baile dos
Artistas’, este surgido no final dos anos 60, reunindo os meios artístico-culturais
e convidados ilustres, as vezes com transmissões ao vivo, foram substituídos
por ‘levadas’ e ‘feijoadas’, da mesma forma reunindo foliões e artistas, dias
antes da abertura da festa.
Por fim, no lugar dos
antigos serviços fixos de som, narrando a folia registrada nas ruas – “SPR
Constelação, a voz do sertão, falando diretamente da marquise da Loja Pires
para onde abrange toda a sua rede sonora” -, as numerosas equipes das emissoras
de rádio e televisão transmitindo em tempo real, para a Bahia, o Brasil e o
Mundo, os lances de uma micareta que preserva do passado a grande animação dos
foliões.
* Adilson Simas é
jornalista.
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