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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 30 de junho de 2020

ENTRE OS RECORTES DE JORNAIS HISTÓRIAS DOS GRUPOS TEATRAIS TABORDA E SALLES BARBOSA

Apresntação dos grupos amadores . Fonte:
acervo particular do pesquisador,
santanopolitano Carlos Mello
Voltamos a nos encontrar com o menino Henrique e seu avô Arlindo. Aproveitando o feriado da Semana Santa, Henrique resolveu passar o fim de semana na casa dos seus avós. O menino estava determinado a investigar o tal grupo teatral Taborda, do qual seu avô havia lhe falado quando contou um pouco da história do Cine-Teatro Santana. Arlindo tinha contado a Henrique que a avó do garoto guardava em seu ateliê um antigo baú, onde colecionava fotos e recortes de jornais sobre muitas coisas da cidade. Henrique comentou com sua avó Antônia a curiosidade sobre a história do Taborda, porém, como estava entretida com os preparativos do almoço da Páscoa, não lhe deu atenção. Assim, Henrique subiu a escadaria da casa e foi parar no ateliê da avó. Lá, achou tanta coisa divertida que, por um momento, esqueceu-se do verdadeiro objetivo de estar ali. Mas, quando olhou para cima do armário, viu o misterioso baú.
Henrique pegou o baú e o abriu, olhando o que tinha dentro dele: várias fotos de alguns grupos teatrais de Feira de Santana, recortes de jornais, um caderno de poesias, panfletos antigos e até ingressos de espetáculo de Circo. O menino estava fascinado, envolvido por um monte de informações sobre sua cidade que nunca lera em livro algum, nem ao menos na escola; nenhuma informação como aquela havia sido dita. Imerso que estava, não se apercebeu que sua avó havia lhe flagrado
Henrique, o que você está como fazendo aqui? Tenha cuidado da com o meu baú, pois ele é muito, importante para mim.
Henrique, assustado, respondeu: - Desculpa, vó Antónia. O vô Arlindo falou do seu baú, e aí fiquei curioso para conhecer essas histórias, principalmente as do Taborda, pois ele disse que conheceu a senhora com a apresentação desse grupo.
Sua vó desfez o semblante de repreensão, deu-lhe um sorriso e falou.
- Foi sim no ano de 1937. Eu estava com minha Tia Izabel e minha prima Sofia, tínhamos ido assistir uma apresentação do Taborda específica sobre as comemorações ao o Dois Julho na cidade! Eu era muito jovem, ainda meio menina, e seu avô também.
Antônia pegou todo o material do baú, sentou-se numa poltrona antiga e disse:
Venha cá que vou lhe contar algumas histórias do Grupo Taborda e do Grupo Salles Barbosa. De acordo com meu Pai Cristóvão e com seu bisavô, o grupo   um dos grupos teatrais que mais tempo atuou na cidade, desenvolvendo atividades de 1906* até 1934. Meu pai me contava que o fundador foi Sr. Ulisses Silva, que depois se tornou sócio dos senhores Domingos Araújo, Ismael Barbosa e Tude Oliveira. Olha Henrique, esse recorte de jornal foi seu bisavô que me deu; ele também gostava de teatro e era muito fá do Taborda. Neste recorte, podemos encontrar alguns dos integrantes desse grupo, como Arnold Silva, Avelino Martins, Salustiano Farias Júnior, Gilberto Costa, Manoel Costa Ferreira, Martiniano Carneiro, Isabel Costa, Alberto Alves Boaventura, Dálvaro Silva e João Martins, além de Miguel Araújo, que exercia a função de diretor. Henrique esse Sr. Manoel C. Ferreira, citado neste recorte, é o Sr. Maneca! Que foi coletor estadual e um dos fundadores da Micareta de Feira.
- Henrique interrompeu:
— Vó, então é por isso que o circuito da micareta tem esse nome; e em homenagem a esse Maneca!
Antónia sorriu e retomou a fala:
- Isto mesmo meu neto. Mas me deixa voltar para onde paramos. O Taborda ressaltava valores da família, da moral e prezava por questões da civilidade; considerado por Dr. Eurico Alves, grande poeta da cidade como uma das relíquias da cultura feirense. Nestes recortes de jornais colecionados pelo meu pai, e passados para mim, constam registros sobre as seguintes peças: o drama Esposa e Mãe (1932), de J. Vieira; Gilberto, o Marinheiro (19330; A COMÉDIA Nhô Munduruca (1932); o drama Helena (1934); e o drama. As provas dos crimes (1936),  
Antônia contava a história através dos documentos que estavam no baú antigo, e Henrique segurava cada recorte de jornal como se fosse um tesouro. Foi quando o menino se deparou com uma nota de jornal intitulada “Tangões e Gabiarra”; esta fazia uma crítica à apresentação do grupo Salles Barbosa, Henrique entendeu o recorte e falou:
-Olha, vó, aqui nesse jornal está falando de outro grupo. Quer dizer que havia vários grupos teatrais na cidade?
Antônia, contente com a curiosidade do neto, começou a falar:
— Minha Tia Izabel, que era professora na Escola Normal, certa vez me contou que existiam alguns grupos de teatro amadores na cidade, tais como: Grêmio Dramático Familiar (1892 a 1900); União Caixeiral 1900; Taborda - 1906 a 1934; Artur Azevedo - 1912; e Grêmio Dramático Salles Barbosa (entre as décadas de 1920 e 1930). Este último tinha na sua formação o Sr. Elziário Santana (um dos arrendatários do Cine-Teatro Santana na década de 1930), Osvaldo Santos, Antônio Ribeiro Mascarenhas, Florisberto Moreira da Silva, Rute Fernandes, Olga Soledade, Euclides Mascarenhas, dentre outros. Assim como o Taborda, o grupo Salles Barbosa realizava seus ensaios no Cine Teatro Santana. Entre estes dois grupos dramáticos existia um clima de rivalidade, o que os levava ao aprimoramento, para que um não fizesse uma apresentação inferior à do outro. 0 Taborda, por ter certa tradição na cidade, geralmente recebia críticas elogiosas e uma boa divulgação das suas apresentações; isso ocorria também, devido ao fato de alguns de seus componentes estarem ligados ao ramo jornalístico, como o Sr. Martiniano Carneiro, dono do jornal Folha da Feira, e de outros, que mantinham boas relações com o Folha do Norte. Nas apresentações realizadas pelo Taborda e pelo grupo Salles Barbosa, geralmente, eram escolhidos um drama e uma comédia para apresentação, sendo o drama uma peça com muitos atos, e a comédia com um e dois atos. Quando não havia espaço para duas apresentações, a opção era pelo drama, pois, para estes grupos, o drama era o gênero central da dramaturgia, já que cumpre a função "educadora" do teatro. De certo modo, estes grupos propagavam a imagem da cidade enquanto "Princesa", "dos bons costumes", "da moralidade", "do progresso e da civilidade".
Observando que sua avó concluíra a história, Henrique, empolgado com uma ideia que lhe surgiu na cabeça, falou:
— Vó, eu tive uma ideia bem legal: vou falar com meu professor de Teatro, Fernando, para marcarmos um dia no qual a senhora poderá contar todas essas histórias para a minha turma. Daí, levaríamos esse baú e mostraríamos os recortes para eles. 0 que a senhora acha?
Antônia, tomada mais uma vez pela empolgação do neto, concordou. Este, imediatamente, pegou o celular:
Foto divulgada no Folha do Norte,
 em 08 de junho de 1912 e repesenta
 uma homenagem a primeira formação
do Grupo Taborda 
— Agora mesmo vou perguntar no WhatsApp se ele concorda com essa ideia.
A avó, com uma expressão confusa, questionou:
— Vai perguntar aonde? Quem é esse tal de WhatsApp?
Henrique soltou um gargalhada e disse:
- Não, vó, é uma pessoa, é uma forma da gente se comunicar. Olha aqui, o professor já respondeu e marcou para aula da semana que vem.
Antônia emocionada, pegou o velho baú com suas memórias, passando-o para mãos de Henrique. Com um beijo carinhoso no rosto, ela disse:
- Acho que está na hora de você cuidar desse tesouro.

*Sobre a data do início do Grupo: ver Registro Históricos

Aline Aguiar Cerqueira dos Santos
Publicado na Revista "Caminhos da Princesa". 

         

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