Lajedinho |
ANTONIO MOREIRA FERREIRA - Poeta, escritor,
memorialista e jornalista, autor de diversos livros, Membro da Academia
Feirense de Letras e Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Feira de Santana.
Antiga Rua do Meio, depois Rua Conde D'Eu posteriormente Rua Manoel Vitorino e atual Marechal Deodoro (Arquivo de Elnando Simões) |
Não! Não vou contar a sua
longa e deslumbrante história, pois isso já foi feito, com inusitada perfeição,
por Rollie Poppino em uma monografia da sua graduação no Departamento de
História da Universidade de Stanford, com o livro “Feira de Santana”, em 1950,
quando pesquisou, profunda e incansavelmente, todos os arquivos da Bahia,
deixando para o historiador Raimundo Antônio Pinto o encargo de prosseguir dos
anos 1950 a 1971, com o livro “Pequena História de Feira de Santana”.
Hoje já contamos, que eu
conheça, dois grandes trabalhos, ambos mais profundos nas pesquisas:
originários de dissertação de mestrado, já mencionados, “Origens do Povoamento
de Feira de Santana - Um Estudo de História Colonial”- da Profª Celeste Maria
Pacheco de Andrade (UFBA1990) e “Nem Tanto ao Mar Nem Tanto à Terra -
Agropecuária, Escravidão e Riqueza em Feira de Santana, 1850-1888”, de autoria
do Prof. Luiz Cleber Moraes Freire, também oriundo de uma dissertação de
mestrado defendida em 2007 no programa de Pós-Graduação em História Social da
UFBA.
O Padre e Acadêmico
Renato de Andrade Galvão trouxe, através de pesquisas pela porta principal da
História, os Livros das Igrejas, fatos como a localização da Capela de Santa'Ana, a verdadeira data da emancipação política, além de deixar na Universidade
Estadual de Feira de Santana um grande acervo histórico que confere, ao
pesquisador e à UEFS, um altíssimo grau de singularidade e excelência.
Muitos são
os historiadores que contribuíram, e contribuem, para enriquecer a História da
Princesa, a exemplo das Professoras Neide Almeida da Cruz e Marília Queiroz da
Silva que, a quatro mãos, escreveram o histórico movimento da educação a partir
do ano de 1860.
Embora
esteja certo de que vou cometer o erro da omissão involuntária, justificado
pelo curto espaço de tempo que usarei, gostaria de citar alguns nomes dos
muitos escritores, poetas e jornalistas que contaram, em prosa e verso, vários
momentos da memória da Princesa, como Godofredo Filho, Franklin Maxado, Helder
Alencar, Georgina de Mello Erismann, Alberto Alves Boaventura, Antônio Lopes,
Amold Silva, Cesar Oliveira, Adilson Simas, Lélia Fernandes, Gastão Guimarães,
Nilton Bellas Vieira, Godofredo Leite, José Carlos Pedreira, Oydema Ferreira,
Eduardo Kruschewsky, Carlos Melo, Hugo Navarro, Dival Pitombo, Raimundo Gama,
Floriano Melo, José Olympio Mascarenhas, Egberto Costa, Eurico Alves
Boaventura, Milton Brito, Alpiniano Reis, Irma Caribé e dezenas de outros que
falaram sobre a vida da majestosa Feira de Santana.
Sem nenhum
demérito para os nossos escritores e poetas, que muito fizeram e continuam
fazendo pela memória da Princesa, cabe aqui um destaque para o trabalho de
pesquisa, verdadeira garimpagem cultural, que fizeram Carlos Brito e Arcênio
Oliveira, trazendo ao acervo cultural de Feira a publicação, em um livro, com os
jornais de 1877 a 85, que nos esclarece muitas dúvidas da história.
Também ao grande mestre Oscar Damião, de
saudosa memória, que, após pesquisar, escrever e publicar várias edições do
Dicionário Personativo, deixou-nos um legado de incomparável valor histórico,
com a publicação do primeiro e único “Dicionário da Feira de Santana”.
Para não fugir ao assunto a que me propus
falar, de maneira sucinta, começaremos por lembrar o ano de 1555, quando o pau
Brasil da Mata Atlântica era insuficiente para exportação, os portugueses resolveram
povoar a sua Colónia e, para tanto, determinaram que se tentasse produzir cana
de açúcar e procurar minérios de grande valor.
Assim, cada desbravador foi em busca dos
seus objetivos, sendo que, aqueles que optaram pela agricultura, tinham um
caminho mais fácil de percorrer, por vias marítimas e fluviais.
Mas, para plantar cana, necessário se
tornava encontrar o tipo de solo adequado, principalmente o massapé (ou
massapé), tipo de solo argiloso e preto. Diogo Álvares Correia, a pedido do
Imperador foi o cicerone.
Dentro da Baía de Todos os Santos estava a
mais próxima estrada para a entrada no interior desconhecido: a foz do Rio
Paraguaçu. E foi por ali que os desbravadores iniciaram a viagem que um dia
chegariam às nossas terras.
Subiram o rio explorando minuciosamente os
diversos tipos de solo, entre matas e manguezais, até chegarem a uma cachoeira
(atual Pedra do Cavalo), que determinava o final da parte navegável.
Descobriram que, até aquela cachoeira, o rio sofria os efeitos da maré, com boa
profundidade, tomando o local um porto seguro, de onde podiam ir e vir a São
Salvador para aquisição de alimentos e materiais de trabalho.
Dali
partiram e encontraram as terras do recôncavo, onde deram início ao plantio de
cana, cuja produção brasileira, 40 anos depois, iria substituir o uso do mel na
Europa.
Exatamente em 1595, o fidalgo Paulo Dias
Adorno adquiriu uma parte de terras, por sesmaria, doada por Martin Afonso de
Souza, e implantou uma grande fazenda onde, consequentemente, nasceu uma povoação
a qual, 73 anos depois, foi elevada à “Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do
Porto da Cachoeira”.
Após a descoberta da continuação navegável
do Rio Paraguaçu, na parte posterior à cachoeira, ainda durante a povoação de
Cachoeira e com grande parte do Recôncavo ocupado com o cultivo da cana, com
muitos engenhos em franca produção, prosseguiram a exploração de mais terras.
Assim, chegaram ao encontro dos rios Paraguaçu e Jacuípe, onde também
encontraram uma grande área, divisora das matas com as caatingas: um tabuleiro
em um planalto. Nesse extremo sul do tabuleiro, formou-se um acampamento onde,
mais tarde seria a povoação de São Gonçalo da Cachoeira.
De acordo com o inventário sumário do
Acervo Histórico da Cúria Diocesana de Feira de Santana, publicado pela UEFS em
1995, pag.85, “A primeira ocupação de terras ocorre em 1615. As sesmarias de
João Peixoto datam de 1655 e o ato da concessão fala da Capela, casa forte,
gado, plantações, sobrado e povoamento”. Isto comprova que o Distrito de Maria
Quitéria tem quase 400 anos. Esperamos que, em 2015, se comemore.
Ali, conhecido pelos índios Tapuias e
Paiaiás como ita- pororocas, pelas serras que se formam, ao fundo, em forma
ondulada, tornou-se o primeiro entroncamento das estradas que se abriam pelos
desbravadores, entre a cidade e o interior.
Ainda segundo o livro citado, em 1685, os
livros da Igreja de São José das Itapororocas já registram celebração de
casamentos e batismos na Muchila, Capela de Nossa Senhora dos Remédios e
“Oratório de Santana”, com a presença do sertanista João Peixoto Viegas.
Com esses
assentamentos, fica clara a existência de outras áreas nas proximidades, que
certamente foram incluídas nas terras que estavam sendo vendidas a fazendeiros
maiores
.
É oportuno esclarecer que as primeiras
fazendas tinham suas sedes sempre próximas uma da outra, como prevenção de uma
defesa coletiva, em caso de ataque dos índios, os quais, ao longo do tempo, foram
quase extintos por João Viegas.
Entre 1705 a 1710, o casal Domingos Barbosa
e Ana Brandoa encontraram nesse tabuleiro o local excelente para criatório,
vez que havia muito capim nativo, hoje conhecido por “capim amargoso”, muitos
minadouros, além de mais de dez lagoas, cujo local já era conhecido dos
viajantes pelo nome de “Olhos D’Agua”.
Hoje, fazendeiros não mais criam gado com
esse capim, (que continua abundante aqui no tabuleiro), porque não servem para
a engorda do gado atual. Mas, naquela época, o gado era pequeno e rústico, e
engordava tão bem quanto engordam hoje a raça zebuína em capins especiais.
Aquele gado ficou conhecido como “pés-duros”.
Foi nesse local que eles adquiriram uma
área de terras com seis quilómetros de comprimento por três de largura, e ali
construíram uma casa sede da fazenda, uma capela em homenagem aos Santos Domingos
e Ana, de acordo com a devoção do casal, além de algumas casas menores para
abrigo de trabalhadores e vaqueiros.
A fim de encurtar caminho e ter mais pasto
e água, indispensáveis aos boiadeiros, os viajantes que antes descansavam em
São José das Itapororoca, mudaram de caminho, passando a fazer ponto de parada
e descanso junto à Fazenda Olhos D’Agua.
Logo alguém construiu uma barraca de palha
para vender cachaça e fumo de corda, outro o fez para vender caças, outro e
mais outro para vender carne, farinha, enfim atender às necessidades dos
viajantes que aumentavam dia após dia.
Já se encontrava tão povoado o local em
torno da capela que, no dia 28 de setembro de 1732, no cartório da então Vila
de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, o casal Domingos Barbosa e
Ana Brandoa fizeram a doação de 100 braças de terras, em quadro, para os Santos
Domingos e Ana. Naquele ano, involuntariamente, com o ato da doação construíram
o berço onde nasceria a Princesa do Sertão.
O tempo vai passando, o movimento para a
“Bahia” cresce, os boiadeiros fazem do local o ponto estratégico para
recuperação do gado, aproveitando a água e capim abundantes para melhorar o
aspecto dos animais. Depois seguiam para Capuame (hoje Dias D’Ávila) onde se
realizava a grande feira de gado da época.
Mas alguns comerciantes de Capuame
começaram a antecipar as compras de gado, vindo para a povoação comprar mais
barato, e vender mais caro na feira da atual Dias D‘Ávila. Ficaram conhecidos
como atravessadores. Outros e mais outros também fizeram o mesmo trabalho, o
que culminou com a troca da feira de gado de Capuame para a feira em Santana
dos Olhos D’Água.
Faltando apenas poucos dias para o
centenário de nascimento, eis que a Princesa é presenteada com um Decreto do
Imperador D. Pedro II, elevando-a a vila, criando, destarte, o Município.
Foi assim que, após alguns problemas
políticos, no dia 18 de setembro de 1833, quando a Princesa já contava com um
século de nascimento, com um grande memorial, foi instalada a Vila e a primeira
Câmara Legislativa, com a posse dos Vereadores.
Ainda de acordo com as professoras Neide e
Marília, em 1860, vinte e sete anos após a sua elevação a Vila, a sede possuía
apenas três escolas, sendo duas para abrigarem, separadamente, os sexos
masculino e feminino, e a terceira se destinava ao ensino de gramática latina
para rapazes, sendo esta fechada cinco anos depois.
No setor de saúde a situação não era diferente:
até 1863, só se contava com algum médico, vindo de Salvador, que fazia
consultas nos dias da feira livre. Somente vinte anos depois, por casualidade,
tivemos o Dr. Joaquim Remédios residente na Vila. Mas a Santa Casa de Misericórdia,
hoje Hospital D. Pedro II, começou a funcionar no citado ano de 1863.
Foi assim que nasceu e está crescendo a
nossa Feira de Santana. Daqui para a frente os historiadores feirenses contarão
sobre seu desenvolvimento, sua gente e os acontecimentos que os nossos descendentes
irão conhecer.
Replicando: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana nº 16
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