Alpiniano Reis Oliveira Filho - Engenheiro Civil, servidor aposentado da EMBASA, é membro da academia Feirense de Letras.
Na década de cinquenta em Feira de Santana, com o sistema tubular de abastecimento público de água inexistente, duas imagens eram frequentes na cidade: o aguadeiro que captava água em fontes naturais, lagoas ou cisternas e atendia a população mais carente comercializando água em carotes transportados em lombo de animais, sendo diferenciado entre o fornecedor de água para beber, ao preço de 800 réis por carga de quatro carotes de 20 litros (foto 3) cada e o fornecedor da água para gastos, vendida por 400 réis, a metade do preço, e os cata-ventos sobre torres metálicas treliçadas que utilizavam a energia eólica no bombeio de água de poços nas residências dos mais abastados e em alguns órgãos públicos como mostra na foto 1 e 2, o existente na sede da Prefeitura Municipal. Para abastecimento também eram utilizadas as cisternas em algumas residências com disponibilidade de área, evitando-se a proximidade das fossas.
Foto 1 - Catavento da Prefeitura no 2º plano. atrás do Colégio Santanópolis - 1933 |
Conforme noticiou o Jornal Folha do Norte na edição de 26 de
janeiro de 1957, aconteceu a inauguração do primeiro serviço público de
abastecimento de água da cidade de Feira de Santana, transportada através da
rede tubular e atendendo a população do centro da cidade por meio de ligações
domiciliares. Esta opção foi viabilizada mediante a utilização de três poços
perfurados no entorno da Lagoa Grande em lugar da opção de utilização do rio
Paraguaçu como manancial de superfície para captação, dado a extensão e o alto
custo da rede adutora além da necessidade da instalação de uma unidade para
tratamento da água bruta.
Foto 2 - Catavento em frente ao antigo mercado do fato, atual Secretaria de Habitação, hoje a feirinha de verduras |
Foto - 3 Jegue carregado com quatro carotes |
Somente no ano de 1957 - ainda mantendo-se o projeto inicial
- foi concluída e inaugurada a obra através do Serviço Especial de Saúde
Pública - SESP com projeto elaborado para início de operação no ano de 1950,
atenderia uma população de 27.000 habitantes.
Obviamente que, passados sete anos, o per capta diário
calculado em 150 litros para cada habitante já estava defasado, não sendo
possível atender sua respectiva população com a vazão de 17,5 litros por
segundo de cada equipamento de bombeio instalado nos três poços, justificando
assim a perfuração de poços à medida que fosse necessário, como diz o
mencionado jornal.
Foto 4 - Reservatório da rua Cristovão Barreto esquina com r. Castro Alves (acervo do autor) |
Um gerador energizava as motobombas dos poços as quais operavam
lançando diretamente na de distribuição, ou seja, considerando toda cidade
satisfatoriamente atendida, a produção excedente de água seria acumulada em
dois reservatórios para compensar o consumo nos horários de pico. Trabalhando
como reservação de jusante, os dois reservatórios em estrutura metálica
apoiadas e de formato cilíndrico com 20 metros de altura por 12 metros de
diâmetro, reservando cada um aproximadamente 2.250 metros cúbicos de água,
sendo um localizado no antigo Pilão sem tampa - atual Rua Cristóvão Barreto,
numa antiga área situada na esquina com a Rua Castro Alves (foto 4) e o outro no
Jardim Cruzeiro, na área onde hoje se situa uma Escola Municipal (foto 5).
Foto - 5 Reservatório do Jardim Cruzeiro próximo ao Estádio Municipal - (acervo do autor) |
Morando nas imediações da Rua Cristóvão Barreto, lembro-me
ainda da inscrição em letras pretas no alto do reservatório: RM.F.S. - S.
A.M.A. - Cap. 2.250 M3 (Prefeitura Municipal de Feira de Santana Serviço
Autónomo Municipal de Agua - Capacidade de 2.250 metros cúbicos de água). Estes
reservatórios metálicos desativados em 1971 com a implantação do novo Sistema
Integrado de Abastecimento de Água - SIAA de Feira de Santana através do Rio
Paraguaçu, foram leiloados como sucata pela concessionária Embasa e demolidos
por volta de 1982.
O sistema então dimensionado para uma população estimada em
60.000 habitantes para o fim do de 20 anos (1970) muito antes já obrigava a
busca e o estudo de outro manancial para
abastecimento da cidade feirense diante a demanda exigida pelo crescimento
populacional.
A existência da Barragem de Bananeiras, localizada a 13 km da
cidade de São Felix, que foi construída em concreto armado no ano de 1930 no
curso do Rio Paraguaçu com finalidade em aumentar a oferta de energia elétrica
para as cidades de Salvador, Feira de Santana, Santo Amaro, Conceição da Feira,
São Gonçalo, Cachoeira, Muritiba, Cruz das Almas e São Felix, anteriormente
cogitada, foi eleita como opções para o abastecimento de água de Feira de
Santana, sendo utilizado o barramento existente para a instalação da unidade de
captação de água bruta.
O denominado Sistema Integrado de Abastecimento de Água de
Feira de Santana, Conceição da Feira e São Gonçalo inaugurado em 25 de fevereiro
de 1971 (S1MAS, 2015) tinha capacidade máxima para tratamento de 320 litros de
água por segundo, tendo uma Estação de Tratamento de Agua Convencional - ETA,
três elevatórias de água sendo uma de captação de água bruta e duas de água
tratada, aduzindo para um reservatório apoiado com capacidade de armazenamento
de 3.500 metros cúbicos localizado na Serra da Conceição no município de
Conceição de Feira. A partir da cota elevada do reservatório da Serra, a adução
da água tratada dava-se por gravidade, com derivação em dois pontos para
abastecimento das cidades de Conceição da Feira e São Gonçalo antes da chegada
à cidade de Feira de Santana. A adutora, tanto no trecho por recalque quanto no
trecho por gravidade, era constituída por tubulação em aço com diâmetro de 600
milímetros e extensão total de 32 km.
A vazão de chegada em Feira de Santana era regulada por uma
Torre de Equilíbrio com aproximadamente 30 metros de altura, sendo mais
conhecida como Chaminé do Tomba por sua localização no bairro do mesmo nome. Em
estrutura metálica e formato cilíndrico de onde partiam três linhas troncos de
distribuição de água com diâmetro de 550 milímetros e estendidas ao longo das
artérias Papa João XXTÍI, Avenida Senador Quintino e a Avenida João Durval
(antiga Avenida Anchieta). O referido sistema contemplou também a implantação
de novas redes e ligações domiciliares, inclusive com o aproveitamento de parte
da rede de distribuição de água do antigo sistema (1957) constituído em tubos
de cimento amianto e existentes no centro da cidade de Feira de Santana. Este
Sistema Integrado de Abastecimento de Água - SIAA teve sua gestão transferida
para o estado, sob a responsabilidade da Companhia do Saneamento do Estado da
Bahia - COSEB a qual diante o Programa Nacional de Saneamento - PLANAS A passou
para a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. - EMBASA em 1975 através de
uma concessão municipal.
No início da década de oitenta o SIAA Feira de Santana,
Conceição da Feira e São Gonçalo já se encontrava subdimensionado para
atendimento à população feirense, exigindo a utilização de manobras na rede de
distribuição. Nesta época a cidade de Feira de Santana dispunha além do SIAA do Paraguaçu o Sistema do Centro
Industrial do Subaé, que fazia o atendimento as indústrias instaladas ao longo da BR-324 e bairro do Tomba
e a distribuição nos bairros do 35 BI, Parque de Exposições e adjacências. Este
sistema não mais existente era constituído de poços artesianos localizados nas
proximidades da Lagoa Grande e recalcado para um reservatório elevado de 500
metros cúbicos, localizado nas imediações do viaduto da BR-324.
A consequente formação do lago com a construção da barragem
de Pedra do Cavalo no ano de 1986 deixaria submersa a barragem de Bananeiras e
as unidades de Captação, Estação de Tratamento de Água ETA e uma das
Elevatórias de Água Tratada do SIAA de Feira de Santana. Consequentemente, no
mesmo ano, já se encontrava concluída a prrimeira etapa das unidades do atual SIAA
com capacidade inicial de tralamento da vazão de 1.000 litros de água por
segundo. Com a relocação do ponto de captação de água bruta para às margens do Lago
Pedra do Cavalo na mesma obra para atender o fim de plano de 1.500 litros por
segundo, foram construídos em paralelo a adutora existente de 600 milímetros
outra linha adutora em aço com diâmetro de 800 milímetros para o trecho de recalque
e 900 milímetros de diâmetro no trecho de adutora por gravidade, dois
reservatórios apoiados de 10.000 metros cúbicos de água cada, localizados na
Serra da Conceição com cota mais elevada que o existente. A segunda etapa da
Estação de tratamento deu-se em 1997, sendo atingida a vazão de 1.500 litros
por segundo para atendimento além da cidade de Feira de Santana as sedes dos
municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo.
Digno de nota foi o período de enchimento do Lago Pedra do
Cavalo em que o nível da água já havia submerso parte do antigo sistema, mas não
havia atingido a nível mínimo das novas instalações de captação de água. Como
alternativa técnica foi utilizado um sistema intermediário flutuante, onde as
bombas instaladas sobre uma barcaça aduziam a água bruta por mangotes de
borracha até a ETA. Certo dia, causado por uma rápida falta de energia, ocorreu
o chamado golpe de aríete rompendo a voluta de uma das bombas, inundando o interior da barcaça e
a fazendo submergir deixando todo sistema público de água completamente
desabastecido. Uma equipe de mergulho especializada foi contratada para atuarem
na abertura das comportas inferiores da nova unidade de captação que
oportunamente já se encontravam submersas, ao tempo que fizeram recuperação da
barcaça.
Um fato curioso foi também a construção do reservatório
elevado de 3.900 metros cúbicos localizado no bairro do Tomba para recebimento
da água para distribuição em Feira de Santana. A cuba de reservação com 30
metros de diâmetro por 10 metros de altura construído em concreto e apoiado ao
solo, sendo toda essa estrutura içada por macacos hidráulicos para o alto do
fuste de 30 metros que havia sido simultaneamente construído. (Foto 6).
Foto - 6 Caixa d'água do Tomba (acervo do autor) |
Na concepção desse Sistema de Distribuição de Água da cidade
de Feira de Santana foi também adotada a funcionalidade do reservatório elevado
como sendo de compensação, similar ao primeiro sistema.
O que operacionalmente no início foi possível, ao longo do
tempo foi perdendo sua eficiência por decorrência até mesmo da expansão do
sistema atendendo localidades rurais no município de Feira de Santana, além do
abastecimento de água das sedes dos municípios de Santanópolis, Santa Bárbara e
Tanquinho (1988) e alguns dos gerando assim constantes despressurização nas
redes de distribuição da cidade feirense.
Na busca de amenizar o problema do desabastecimento, várias
alternativas foram postas em prática como a construção de elevatória
intermediária no trecho de recalque de água tratada e o intenso combate a
perdas com a implantação de zonas de abastecimentos dotadas de macro medidores
e monitorados por telemetria.
Em setembro de 2016 foi inaugurado o Centro de Reservação
Feira Norte formado por três reservatórios apoiados de 8.000 metros cúbicos
cada, construídos emplacas pré-fabricadas em fibra de vidro adquiridos nos
Estados Unidos. Visando agilização da obra, também curioso foi a instalação dos
mesmos, que tiveram como técnica de construção no primeiro momento a execução
da cobertura, sendo a mesma elevada à medida da montagem das paredes, iniciando
com as placas superiores e sequenciando até a base de concreto, previamente
preparada. (Foto - 7)
Foto - 7 Uma das células de reservação de 8.000 metros cúbicos de água. (acervo do autor) |
O Jornal da Embasa publicado em outubro de 2016 informa o
início das obras de implantação do Centro de Reservação Feira Leste para
atendimento a crescente demanda dessa região da cidade. Esses reservatórios, em
número de dois, foram construídos em concreto com capacidade de 4.200 metros
cúbicos cada e concluídos em 2018.
Até o presente o Governo do Estado tem informado sobre a
ampliação da atual vazão de 1.500 litros por segundo no SIAA de Feira de
Santana, que já deveria ter ocorrido desde 2005, - considerando o
dimensionamento de 1985 para 20 anos. Até dezembro de 2018, estimava-se o
atendimento de quase 267.000 economias para o SIAA de Feira de Santana,
Conceição da Feira, São Gonçalo, Tanquinho, Santa Bárbara e Santanópolis,
devendo atender uma população de aproximadamente 1,0 milhão de habitantes.
Diante estas estimativas, espera-se com brevidade a construção de um novo
Sistema.
Replicando: Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Feira de Santana nº 16
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