João Martins de Freitas Santanopolitano Membro da ALAFS |
Salve ó terra formosa e bendita!
Paraíso com nome de Feira...
Bem nascida entre verdes colinas
Sob o encanto de um céu azulado...
Georgina Erismann
É de real importância salientar que no estudo do surgimento e desenvolvimento de Feira de Santana se considere como foi a interação dos seus primeiros migrantes, com a superfície do seu “habitat”.
O relevo e a hidrografia do sítio de Feira são fatores a serem avaliados no ambiente dos seus ocupantes.
A topografia da nossa cidade é descrita pela Geografia como planície, com suaves inclinações (colinas) e entre estas, pequenas depressões, (lagoas rasas).
Estamos localizados em zona de transição entre a região da Mata Atlântica e o Agreste, com uma pluviometria de 800 mm anual. Combinados os aspectos topográfico e hidrográfico, estas pequenas depressões criaram as lagoas rasas, cheias o ano todo.
Portanto “Bem nascida entre verdes colinas” é precisamente ter sido nascida, a nossa cidade, às margens de várias lagoas rasas.
O paisagismo das colinas verdejantes entre inúmeros espelhos d’água, rodeados por cinco rios: o Jacuípe, o Aguadas, e o Cavaco que desaguam no caudaloso rio Paraguaçu, perto da cidade de Feira e o rio Pojuca, cujas águas vão direto para o Oceano Atlântico, na Praia do Forte, tem nascentes em Feira. Finalmente, o rio Subaé, que nasce num bairro de Feira, desagua na Baía de Todos os Santos após atravessar a cidade de Santo Amaro. Era realmente um Jardim do Éden, um divisor de águas para o leste, para o oeste e para o sul, um verdadeiro “Paraíso com nome de Feira” (Georgina Erismann).
Assim sendo, não podemos analisar a história do nosso município, somente pelo viés dos seus vultos, das suas datas e dos seus eventos. Nomes e datas podem ser contestados. O que não deixa dúvida alguma é a presença de um clima “Sob o encanto de um céu azulado” e um relevo privilegiado, responsável pelo nascer da nossa Urbe.
“Pré-história de Feira de Santana”
Muito século antes da existência da Fazenda Santana dos Olhos D’água viviam por aqui os índios da tribo Payaya. Por aqui passaram os caçadores de indígenas, missionários Jesuítas, Geógrafos, Sertanistas, Bandeirantes, escravos fugitivos e seus capturadores, caçadores de animais para venda de peles, entre outros. Eles abriram trilhas e caminhos em várias direções.
(Hoje é o segundo maior cruzamento rodoviário do País. Passam pela cidade e entorno imediato 3 estradas federais e 6 estaduais. Só perde para cidade de São Paulo).
Primórdios da História
Sabe-se também que muitas décadas antes da Fazenda Santana dos Olhos D’água, já moravam nas terras de São José das Itapororocas, a 15 quilômetros de distância de Feira, um sesmeiro, Miguel Ferreira Feio, e seus posseiros, em terras doadas pelo rei de Portugal. (Posteriormente Feira foi desmembrada da Paróquia de São José, que hoje é denominada Maria Quitéria em homenagem à Heroína da Independência do Brasil na Bahia).
História
Os primeiros migrantes que vieram para Feira foram atraídos pela oferta de água boa e capim nativo abundante nas lagoas, para a criação de gado local e aluguel de pastos para o refrigério das boiadas. Nos locais havia a hospedaria para tropeiros, vaqueiros e outros viajantes, que ligavam as cidades portuárias com vilas do sertão. Agregados aos fazendeiros das lagoas, estavam os escravos, os arrendatários de sítios, e os roceiros com suas famílias.
Em algumas lagoas, além disto, havia uma quitanda, um boteco e disfarçadamente os primeiros cortiços.
A história que não foi contada
Como não poderia ser diferente, na vida dura para sobrevivência nas lagoas, também surgiram as donas da referida profissão mais antiga do mundo, as prostitutas.
Não lhes faltavam os bravos vaqueiros, os corajosos tropeiros e viajantes solitários que, por algum tempo, estavam ausentes de suas famílias, e carentes de aconchego.
Algumas destas lagoas se destacaram com nomes característicos. Ex: Lagoa do Prato Raso, Lagoa da Pindoba, Lagoa da Tábua (Taboa) Lagoa Salgada, Lagoa Grande etc. Outras pela denominação atípica, chamavam a atenção para o seu objetivo. Ex: Lagoa do Santo Antônio dos Prazeres. (Até hoje ali permanece a maioria dos 56 bordeis catalogados, e nas circunvizinhanças uma grande parte dos 34 motéis de Feira).
Outra Lagoa que prosperou rapidamente foi a Lagoa do Tanque da Nação. Também era conhecida como Lagoa das Lavadeiras.
A água era salobra e podia ser poluída com sabões (O Tanque era da Nação, das “raparigas” porque estas vinham de lugares bem distantes e traziam sotaques diferentes.
Ainda hoje o maior ponto convergente de meretrício em Feira, é a parte superior da colina do Tanque da Nação, a atual Praça Padre Ovídio, onde fica a Igreja da Matriz. O assédio das arruadeiras era tão grande que a Igreja gradeou uma parte da Praça da Matriz para que os fiéis evitassem a concupiscência e se defendessem do corpo a corpo com as meretrizes. Contrariando o que o poeta Castro Alves dizia: “A praça é do povo. Como o céu é do condor. É antro de liberdade”. A praça tem “pensões do amor” com nome de hotéis para o aluguel de quartos, para relacionamentos com as garotas de programas, e os becos e vielas adjacentes, como por exemplo, o Beco da Energia e outras zonas estão cheios de bregas.
A parte de baixo da colina da Matriz, o Tanque da Nação, a Estação de Transbordo e o Centro de Abastecimento são referência nacional de prostituição livre, inclusive de menores).
Foi exatamente a parte de cima, a praça da capela que era, na época, apelidada Portal do Sertão, que o nosso Ruy Barbosa rebatizou-a com o nome de Princesa do Sertão (Seria o termo “princesa” uma alusão à oferta exacerbada de mulheres jovens profissionais do sexo? Na época os cafetões, no Portal do Sertão, cochichavam para os clientes, comerciantes, funcionários de repartição pública, visitantes dos hotéis, políticos, etc: chegaram do sertão... “umas princesas”. Ruy Barbosa como um bom político sabia disto, quando visitou Feira).
Um reparo na História de Feira
Em nome da moral e dos bons costumes, foram criados tabus por parte dos historiadores de Feira. Estes, cheios de valores familiares, não se permitiram escrever sobre o tema prostituição, como um comércio informal, para o desenvolvimento da cidade comercial cujo nome é Feira.
A prostituição sempre esteve presente em todas as épocas: Um homem de bem nunca atira a primeira pedra contra sua existência e utilidade, em certos momentos.
Alguns moralistas até a justificam como “um mal necessário” para a preservação das moças honradas. “Os rapazes têm onde aplacar seus impulsos sexuais”.
Existem em certas culturas rituais religiosos de prostituição sagrada, com deusas do prazer de carne e osso.
Concordo, em parte, com os julgadores da moralidade, em não trazer relatos históricos ao conhecimento público, sobre prostituição.
Aquele tempo uma mulher de boa família não falava à vontade sobre sexo, não saía sozinha de casa, não podia expressar o prazer do sexo com seu próprio marido, não fumava, não bebia ou se drogava, não usava mini saias, decotes ousados ou shorts curtos e se assim o fizesse seria “coisa de mulher perdida”.
Hoje há profissionais do sexo de elite. Descentemente vestidas, patricinhas, universitárias, poliglotas; são as primas ricas, diferentes das mundanas, as vulgares, muitas delas analfabetas e de dentição frontalmente incompleta. Hoje tem oferta de mulheres para todos os gostos e para todos os bolsos. Nos bordeis, nas ruas, na imprensa ou on-line.
Sinto-me à vontade de narrar o lado construtivo, senão positivo do consumo aos serviços deste grupo, especialmente nos primórdios de uma cidade comercial como Feira.
Sinto-me à vontade porque vivemos na época da liberação feminina. Na época da ideologia de gêneros. Vivemos um momento em que os políticos, os ativistas de movimentos sociais, a saúde pública, os religiosos, os sindicatos das prostitutas, os grupos LGBT, a imprensa etc. discutem, abertamente, o direito e a liberdade ao sexo. Feira de Santana cresceu pela oferta do sexo. Feira das festas mundanas, do tráfico de drogas, do vício. Feira que cresce entre o joio e o trigo, desde sua origem entre o sacro e o profano.
Um português muito católico Domingos Barbosa de Araújo e sua esposa dona Ana Brandoa, preocupados com o aumento da promiscuidade e criminalidade das outras lagoas em redor da sua fazenda Santana dos Olhos D’água, doaram uma área de terra para a construção de uma capela.
(Hoje Domingos Barbosa e Ana Brandoa figuram como os fundadores da atual cidade de Feira de Santana. O casarão da Fazenda Santana foi tombado como Patrimônio Histórico e Geográfico de Feira, o marco da colonização de Feira).
Uma capela foi erguida sobre uma colina, atualmente Praça da Matriz, distante mais de 1 quilometro da sede. Isto significa que não foi construída para a necessidade única da sua fazenda, mas como marco civilizatório, com a presença territorial da igreja na comunidade. Haviam famílias católicas, muitas, em outras lagoas periféricas.
Alunos vinham para escolinha da capela, de várias lagoas. O povoado da capela, ininterruptamente, atraía as famílias dos alunos com seus negócios, para se estabelecerem ali. Entrementes nas ruas, becos, praças etc apareciam, sorridentes, as prostitutas, as profissionais do sexo de todos os níveis, do brega ao chique, e invadiam Feira, desde seu primórdio, proveniente de várias regiões principalmente do nordeste.
(Assim foram algumas cidades de crescimento populacional vertiginoso como Nova York, Las Vegas, Chicago, Paris, Dubai, que foram chamdas "sin city", heterogêneos, Feira de Santana cresceu. É a cidade educadora e cidade do medo. É a cidade do empreendedorismo e a cidade das trdições, é uma cidade eclética sob vários ângulos "sui generis".
Nenhum comentário:
Postar um comentário