Evandro J.S. Oliveira |
Valber
Mansur, descendente de árabes, grande comerciante de miudezas na rua Sales
Barbosa, casado com a bela Santanopolitana Roland, era uma pessoa interessante,
tinha raciocínio inusitado, consequentemente com tiradas hilárias. Certa vez em
um exame médico de rotina, seu médico recomendou diminuir os vícios para o bem
da saúde, ele prontamente obedeceu, passou a levar seis meses jogando baralho,
sem fumar ou tocar em álcool, nos outros seis meses, largava o baralho passando
a fumar e nos últimos seis meses da sequência planejada, bebia a cervejinha quando
saía do trabalho, desta forma dizia que só tinha um vício.
Mas o caso
mais comentado pelos colegas da Sales Barbosa era o medo que ele tinha de
avião, dizia “se navio afundar sei nadar avião pifar não sei voar”.
Os
comerciantes da Sales Barbosa, todo ano viajavam para São Paulo para fazer
compras completando os estoques das lojas. Embarcavam na segunda-feira em uma
aeronave, em São Paulo iam para um hotel, no outro dia recebiam um corretor de
compras, entregavam lista do que queriam adquirir e iam ver o comércio, para se
atualizar.
No final da
semana, recebiam o corretor, conferiam os pedidos e à noite iam se divertir, que ninguém é de ferro. Valber viajava de
carro, três dia de ida e três de volta, ia na sexta, a estrada não era asfaltada, voltava
dois dias depois dos outros e perdia todas as vantagens. Não havia quem o convencesse:
Avião é o transporte mais seguro,
diziam uns, você está perdendo de ver os
Shows paulistano do sábado à noite, não
está acompanhando as inovações comerciais, chega cansado não tem ânimo para nada, argumentavam outros. Ora ele bem sabia, mas o medo superava o
arrazoado.
Por fim depois
de tantas evidencias, resolveu comprar passagem de avião, mas não foi com os
colegas, queria fazer uma surpresa. O Voo era 14:00, ele chegou às sete horas
no aeroporto, despachou a bagagem foi para o bar pediu um litro de whisky, para
tomar coragem.
Na hora marcada foi para sala de embarque
decidido, depois foi o primeiro da fila, andou ereto em todo o pátio, quando o
efeito do whisky não foi maior do que o pavor de entrar naquele pássaro horrendo
de metal, foi quando se ouviu o berro de Valber, lendo a sigla do avião gritou:
F-WWLQ, este sonhei que vai cair,
saindo da fila esbravejou, não vou viajar não. Foi um pandemônio, outros
passageiros saíram da fila. Os Comissários diziam “meu senhor, que bobagem, sua
bagagem já está na aeronave” e ele já apressando o passo grita, “minha bagagem
não sonha”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário