Hugo Navarro Silva |
Não é segredo que o governo municipal, se tem calcanhar de Aquiles, Cabo das Tormentas, é o transporte coletivo.
Pessoas, até algumas de reconhecido bom senso, atacam a administração municipal afirmando que tudo poderia ser resolvido com uma “canetada”. É afirmação que encerra grande dose de maldade, capaz de impressionar espíritos menos prevenidos. As empresas concessionárias não prestam um bom serviço, colocam à disposição do público ônibus caindo aos pedaços, sujos e arrebentados? Simples “canetada” decretaria o seu afastamento e o imediato aparecimento de outras, ágeis, fagueiras e dispostas a fielmente cumprir suas obrigações contratuais a preços populares, fazendo a felicidade geral da nação feirense. O raciocínio, totalmente falso, é passado para o povão, sem se imaginar possíveis e danosos desdobramentos.
Em época de euforia inconsequente o país fez opção pelos combustíveis derivados do petróleo, desativando linhas de bondes e quase extinguindo as ferrovias do território nacional. Foi a fase da implantação da indústria do automóvel e do predomínio dos caminhões em nossas estradas empoeiradas. O caminhão chegou a ser sonho dourado de muito jovem disposto a trabalhar e a ganhar dinheiro o que muitos conseguiram às custas de esforço, alguns receios e justificados sustos.
Com o passar do tempo, entretanto, verificou-se o quanto de atraso, prejuízo e dificuldades foi causado ao povo brasileiro pelo banimento dos trilhos, que proporcionavam transporte relativamente barato, já faziam parte dos hábitos e da integração de comunidades como a nossa e populações do Recôncavo. Era tradicional a ligação comercial entre esta cidade e a da Cachoeira, fruto em parte da nossa antiga dependência da “heroica,” ligação quase totalmente extinta com o fim da ferrovia.
Quem supõe que há profusão de empresários, cheios de ônibus novos, zero quilômetro, lutando para assumir o serviço de transporte coletivo de Feira de Santana e dar conta das suas obrigações para com o povo e a Prefeitura, está completamente enganado. Há grandes entraves para que o transporte de massa se torne eficiente nesta cidade.
Todo mundo sabe que a Prefeitura não se pode meter na aventura de explorar, diretamente, serviço de transporte coletivo sob pena de falir em poucos dias e ter que vender até o Paço Maria Quitéria para a instalação de supermercado.
Resta apenas a possibilidade de entregar o serviço a empresários, que não aparecem por patriotismo, por amor à terra e ao povo, muito menos para vestir o burel da penitência e da pobreza. Aparecem, como é natural, para servir e ganhar dinheiro.
Ora, o próprio governo municipal, por intermédio do seu ramo legislativo, a Câmara de Vereadores, no decorrer do tempo vem inviabilizado o correto funcionamento do sistema de transporte urbano, contribuindo para torna-lo negócio pouco atraente ao multiplicar barretadas com o chapéu alheio, instituindo gratuidades e meias-passagens na esperança de conquistar votos, sem ligar para o fato de que alguém teria que pagar a conta. Ultimamente a situação ficou ainda mais difícil com a imposição, nascida de movimentos populares, que balançaram velhas estruturas, amostras da revolta latente no seio do povo brasileiro, que pode explodir a qualquer momento. Aqueles movimentos exigindo mais gratuidades nos transportes, resultaram em congelamentos de tarifas o que deve ter inviabilizado maiores lucros e modernização de frotas.
Há promessa do prefeito da adoção de moderno sistema de transporte que irá facilitar a vida do povo feirense. Não será, entretanto, solução fácil e de baixo custo.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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