Hugo Navarro Silva |
Advertências de estudiosos sobre a questão do alimento, no
mundo, não têm faltado. Há muito que se tem alertado para o fato de que a
humanidade cresce mais do que sua capacidade de produzir comida suficiente para
todos.
O profº. Pinto de Aguiar já ressaltava, nos anos
oitenta, na sua defesa da mandioca, que
chamou do “pão do Brasil”, que as conquistas, as inovações científicas, os
modernos métodos de tratamento do solo, a química, a genética, os defensivos e
as novas máquinas não estavam dando o
resultado desejado e que a ONU
publicara, por intermédio de um dos seus órgãos, documento com o título de
“Alimentos no Contexto da Estratégia Mundial do Desenvolvimento” em que afirmava que na década de 70 havia
déficit de 2,5% na produção mundial de alimentos, abaixo das necessidades
humanas, prevendo que a população mundial chegaria aos seis bilhões de viventes
ao fim do século vinte, com o alargamento da diferença entre países ricos e
países pobres.
Ninguém duvida de que grande parte da evolução humana se deu
em torno da comida. Os conflitos, quando o homem teve que lutar pela terra, que
lhe garantia campo de caça e da colheita
de frutos, que se transformou, depois,
em agricultura e pecuária, geraram lutas intra e extragrupais, origens das
guerras e das modernas lutas de classes, às vezes mascaradas de motivos
religiosos, políticos ou de defesa de interessas de grupos sociais ou do povo.
Tudo, entretanto teve uma só origem: o estômago. “Ao vencedor as batatas” já
dizia Machado de Assis.
Tudo o que tem aparecido no mundo moderno como conquista do
desenvolvimento e do progresso, a indústria, hoje de possibilidades infinitas,
notadamente no ramo da informática, o comércio, com suas mirabolantes campanhas
e todas as invenções que estão pondo o mundo, vertiginosamente, de cabeça para
baixo, apenas disfarçam o que é primordial entre a raça humana, a apreensão e a
garantia do alimento.
É claro que a diversidade tem criado tipos como aquele
referido por Gregório de Matos quando fala dos que são “por fora fatais maganos,
por dentro pão bolorento”, mas temos que
reconhecer que até recentemente a cozinha era parte relevante da casa, pelo menos no Brasil,
como assevera Luís da Câmara Cascudo: “A cozinha sempre foi considerada o compartimento mais importante
da casa, uma espécie de posto avançado para o controle de tabus e restrições
religiosas relacionadas a alguns
alimentos”.
Nos dias de hoje a cozinha do boteco, do restaurante ou do
carrinho de “cachorro quente” vêm assumindo posição de relevo diante das
transformações ocorridas no meio social, decretando a morte da tradicional
cozinha das famílias, ou porque poucos são os que entendem da elaboração de
alimentos ou o custo da mão de obra torna difícil manter o que se vai
transformando em artigo de luxo.
Atualmente, quando a população mundial passa dos sete
bilhões e há, segundo estimativas, cerca de um bilhão de subnutridos, esboça-se
a tragédia mundial prevista por alguns, a da fome até no meio da opulência.
Daí, talvez, que a ONU, para mostrar serviço, tenha
divulgado, através da FAO, que comer insetos, como já acontece em países
orientais e no México, faz bem à saúde porque os insetos são portadores de proteínas, vitaminas e sais
importantes para vida saudável, com o que ameaça a de extinção grilos, gafanhotos e escorpiões, julgando, talvez, que devorar insetos é mais
aceitável do que uma volta à antropofagia, que foi hábito festejado em outros
tempos.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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