ELIANA SILVA NAVARRO, Santanopolitana, encontrou
uma bela publicação e enviou ZAP.
A seguir os textos.
"Quase", postado abaixo, foi escrito em 2002 por Sara
Westphal numa sala de cursinho preparatório para um segundo vestibular de
Medicina. O professor pediu licença para ler em voz alta a redação da mocinha e duas
ou três colegas gostaram tanto do texto que lhe pediram uma cópia, as quais ela
fez à mão. Desde então,
"Quase" mudou a vida de muitas pessoas... Quatro anos depois e Sara
na faculdade de Medicina, num domingo de Páscoa, leu no jornal, na coluna de
Luís Fernando Veríssimo, algo que dizia assim: "Eu gostaria de encontrar o
verdadeiro autor de "Quase" para agradecer a glória emprestada e para
lhe dar um recado". E eis que ali estava ela, reconhecendo o texto que um
dia escrevera na sala de cursinho... Do contato com Veríssimo ficou sabendo que
"Quase" havia sido traduzido para o francês "Presque" e que
fazia parte de uma coletânea de grandes nomes escritores brasileiros, como
Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e outros - lançada no Salão do
Livro de Paris... O "Quase" de Sarah rodou mundo: "Minha redação
de cursinho cruzou o mundo como se fosse do Veríssimo... Virou letra de música,
tatuagem, rap na Guiana Francesa, espetáculo de dança, questão de vestibular,
de concurso público, e até anúncio de funerária. Fez parte das turnês de Ana
Carolina e também foi lido pela Ana Maria Braga". Mas para Sara, demorou
ainda mais uns anos até que largasse a Medicina e se tornasse jornalista... na
Austrália. Ah!, essa internet....
QUASE, de Sara Westphal
“Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, é
a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me
mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda
joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase
amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas
chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa
maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida
morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está
estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na
indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados. Sobra covardia e falta
coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o
nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria
ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não
ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um
traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas
estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente
paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a
oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros
amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou
economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que
sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem
quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário