O SR. ARNOLD SILVA PRESA DE FORMIDÁVEL INDIGESTÃO
Preoccupado unicamente com os seus afazeres de comprador de gado, no
interior da Bahia, a primeira vez que s. ex. abandonou a tranquilidade do
sertão foi para vir ao Rio, como representante de sua terra na Assembléa
Nacional Constituinte.
Aqui chegando, porém, ao contrario dos seus collegas que escolheram pensões
baratas e se limitam a conhecer o trajecto que vae de casa ao palacio Tiradentes,
o illustre deputado entrou immediatamente em contacto com a vida agitada da
capital.
Emquanto os outros, depois do Jantar, lêem qs jornaes e jogam “visporas”
em familia, a caróços de feijão, o coronel Arnold procura os centros mais
concorridos, as casas de chá, as bares elegantes e, uma vez por outra, um “cabaret”
baralhento onde se tira o diabo do corpo e o dinheiro do bolso.
Desconfiado, como todas as criaturas do interior, não quer s. ex. cicerones
dispendiosos ou companheiros amaveis.
Farra, para elle, é negocio que a gente faz
sósinho, sem testemunhas e sem comparsas, para que se não murmurem coisas intimas,
capazes de com- promettelo perante o sr. Leoncio Galrão, que é, pelas suas
altas virtudes, uma especie de fiscal do comportamento da bancada. Ora, com
esse programma, é justo que, de quando em quando, o sr. Amold se veja a braços
com as difficuldades naturaes dessas transições violentas.
Hontem,
quando circulou pela Camara a noticia de que o sr. Amold Silva fôra presa de
uma formidável indigestão, procurámos o sr. Arlindo Leoni, afím de que s. ex.
explicasse o caso e nos désse noticias do estado do seu sympathico colega.
O sr.
Arlindo, interpellado por nós, sorriu, collocou uma agulha nova, baixou o
diafragma sobre o disco, e, depois daquelle chiado caracteristico dos
primeiros momentos, explicou:
— O Arnold já está fóra de perigo. Foi uma
indigestão de bolachinhas, coisa sem importância.
— De bolachinhas ?.. — perguntámos.
E o sr,
Arlindo Leoni:
— Foi um equivoco dos diabos. Imaginem que o
Amold com aquella mania de ser elegante, resolveu passar a noite na Brahma,
como fazem os rapazes “chics”. Entrou, pediu um “chopp”, outro, mais outro e,
ás onze horas tinha “entornado” seis “chopps” e estava sem sentidos em baixo
da mesa.
Na Assistência, foi uma dificuldade para
atinar com a causa do accidente. A barriga, estufada e lustresa, parecia desafiar
a especialidade do Fernando Magalhães.
Depois
de muito trabalho, o Arnold
abriu os olhos, e, como
o medico lhe perguntasse o que havia
comido, respondeu que tomára seis “chopps” e comera seis boláchinhas,
Só então
descobriram que o Armold havia
comido os cartões do "chopp” como se fossem bolachas...Publicado no Diário Carioca - Domingo, 17 de dezembro de 1933
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