Em 11 de janeiro de 1958, o jornal "Folha do Norte", editou na primeira página, texto do santanopolitano Carlos Pires.
Está em andamento na Câmara Federal o
projeto que preconiza a prorrogação dos mandatos parlamentares, o
que constitui, por certo, mais um fator de sérias inquietações nos quadros da
já conturbada vida pública brasileira.
Evidentemente,
a medida em apreço se obtiver a sua aprovação nas duas Casas do Congresso
Nacional, acarretará as mais deploráveis consequências em detrimento da própria
continuidade do sistema democrático que ainda não conseguiu consolidar-se no
Brasil, em virtude, sobretudo, de ausência, nos nossos homens públicos, do bom
senso que a conjuntura atual da vida nacional reclama. Um Poder legislativo que
procura votar a prorrogação do seu próprio mandato, à revelia do povo, é, sem
dúvida, um Poder que se descura dos mais solenes compromissos que assumiu perante a nação, e cujos interesses deve estar subordinado. Porquanto somente a
ele deve a investidura da suas altas funções.
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Congresso nacional existe, dentro da estrutura do regime político sob cujos
postulados vivemos, para defender e zelar os mais sagradas interêsses coletivos
dando, no desempenho de suas importantes atribuições de órgão da soberania
nacional, exemplos que dignifiquem pelo acatamento aos preceitos da
Constituição, e, também princípios éticos em que deve alicerçar a vida das
comunidades humanas. Quando, porém, renegando os seus irrenunciáveis deveres para
com povo, o Congresso nacional cogita de tão clamorosa imoralidade, em verdade perde
o respeito o e confiança do país, e, ainda mais, põe em perigo o próprio regime
democrático, manutenção é a fundamental
obrigação dos representantes do povo.
Não poderia ser
mais chocante o atuação do Parlamento que dessa forma, pretendendo prorrogar o
seu mandato quando na realidade, na temporalidade dos cargos eletivos, fixada
por expresso preceito constitucional, reside uma das mais sólidas garantias da
vida democrática, no sentido de proporcionar ao povo a oportunidade de em
períodos estipulados pela Carta magna, manisfestar livremente o seu julgamento, a
respeito daqueles que estão com a alta e honrosa incumbência de conduzir os
destinos da Pátria. Não só inconstitucional, como, acima de tudo, imoral indecente
mesmo o projeto que visa a prorrogação dos mandatos que se
obtiver a ratificação do Congresso, constituirá um afrontoso desrespeito à
soberania do povo brasileiro, cujos representantes envergonham e degradam a
nossa vida pública, com atitudes incompatíveis com a dignidade das funções que
exercitam.
Se a prorrogação dos
mandatos for aprovada, o Brasil dará um perigoso retrocesso na senda do seu
desenvolvimento político. Será um retrocesso com imprevisíveis consequências
para a nação e para o regime. O Congresso nacional deve rejeitar tão indecorosa
proposição, principalmente para evitar o descalabro completo da moralidade, que
cada vez mais se ausenta da prática da vida pública. Nesta época angustiante e
desoladora em que os próprios dirigentes do país, são os que mais se empenham
no desacato às leis e às normas de decência e compostura.
A nação
brasileira exige a rejeição da absurda proposição de vez que o congresso deve
reconhecer que, aprovando a prorrogação dos mandatos. Estará lavrando
inapelavelmente . a própria sentença de morte da democracia que, no Brasil,
vive em constante e assustadora debilidade.
O Brasil exige o
respeito à Constituição, para que no futuro não feneça a democracia, nos
horrores de novo despotismo e na ignomínia da supressão das liberdades
públicas, tão vitais para o funcionamento normal das instituições humanas.
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