Adilson Simas Santanopolitano, jornalista, escritor, Blogueiro |
Em 1954, no dia 6 de junho, que
caiu num domingo, o Fluminense de Feira F. Clube foi a Salvador e estreou na
primeira divisão do futebol baiano, no antigo Estádio Otávio Mangabeira, que,
em tempos idos, foi a Fonte das Pedras, depois Fonte Nova e nos dias atuais,
Arena da Fonte Nova.
Enfrentou a poderosa equipe do
Esporte Clube Vitória, os “Leões da Barra”, que, no Estado, dividia com Bahia e
Ipiranga a preferência dos amantes do esporte das multidões. O rubro-negro
baiano colocou em campo sua força maior, assim constituída:
Nadinho, Valvir, Alírio, Porunga e
Eloi; Joel e Tombinho; Quarentinha, Juvenal, Antônio e Ciro. A imprensa da
capital criticou a atuação do árbitro Francisco Moreno, prejudicando o
Fluminense, mas mesmo assim o placar ficou em 1 x 1.
Hosanah, Maneca, Pelúcio, Elias II, e Zezinho Elias I, Eduardo, Ioiô goleiro, Tutu e Edinho |
O gol que garantiu o surpreendente
empate do tricolor aconteceu aos 36 minutos do segundo tempo. Foi feito pelo
atacante Alfredo, pai do radialista Jair Cezarinho, num tiro direto de fora da
área.
Durval Cunha, o primeiro treinador
do Fluminense como clube profissional, colocou em campo, como diria o saudoso
Ligoza, a seguinte “onzena”: Batista,
Augusto, Júlio, Elias I e Edinho; Zezinho
e Hosannah; Maneca,
Pelúcio, Alfredo e Elias II.
Coube ao diretor Osvaldo Torres
representar o Fluminense na reunião do Conselho Arbitrai da Federação, que
serviu para formular o convite ao tricolor para participar como representante
do interior no campeonato baiano de profissionais.
Na volta, Osvaldo Torres anunciou
que aFBF (Federação Baiana de Futebol) sugeriu uma espécie de fusão dos clubes
amadores da cidade, e o Fluminense com as mesmas cores passaria a ser Feira de
Santana Futebol Clube. Não vingou porque alguns clubes, especialmente o rival
Bahia de Feira não aceitou. Mas Enádio Morais, que presidia o Flamengo, passou
a formar entre os tricolores.
O clube ingressou no
profissionalismo, reunindo no seu Conselho Deliberativo os mais diversos
segmentos, tendo na presidência Manuel Contreras, que na cidade era o gerente
da Souza Cruz. Já na presidência do Conselho Diretivo estava o médico e
vereador Wilson da Costa Falcão, filho de João Marinho, que era o prefeito da
Feira.
A
reação contrária do Bahia tinha uma explicação: naquele ano, os dois clubes
decidiram o título do certame feirense de amadores, tendo o Fluminense chegado
ao tri campeonato ao vencer o “Bicho Papão” pelo placar de 3 x 1.
Fluminense de Feira 1961 |
Aquela
disputa mexeu com a cidade. No dia da partida, domingo, 2 de janeiro, houve
verdadeira romaria, tanto na ladeira da Barroquinha como na descida do Nagé,
com os torcedores se dirigindo para o antigo Estádio Almáchio Boaventura, na
divisa do Alto do Cruzeiro com Sobradinho.
Antes,
durante e depois do embate em campo, houve, como se dizia na época, sururu
entre as duas torcidas. “Guarda-chuvas”, também chamados de “guarda-sóis” foram
quebrados na cabeça de torcedores, sem falar nos chapéus-palhinha voando pelos
velhos alambrados do campo.
O
Fluminense conquistou o tri ao vencer a partida, que os cronistas chamavam de
refrega, pelo escore de 3x1. O primeiro tempo terminou com a vitória parcial de
2x0, gols de Pelúcio aos 3ó minutos e Zequinha aos 42. No segundo tempo, aos 22
minutos, Mário Porto de cabeça diminuiu o placar, mas com outro gol de
Zequinha, novamente aos 42 minutos, o Fluminense deu número final à partida.
O
“bicho papão” colocou em campo: China, Lipinho e Bueiro, Valter, Tote e
Juvenal; Alegre. Dário, Jorge de Barros, Mário Porto e Guri. Já o ‘Touro do
Sertão” escalou Batista, Tutu e Juarez;Elísio, Edinho e Elias; Zequinha,
Alfredo, João Macedo, Pelúcio e Alberto.
A
exemplo dos dias atuais, o protesto foi geral ao se anunciar, com o estádio
Almáchio Boaventura completamente lotado, uma arrecadação de 25 mil cruzeiros.
O extinto Diário da Feira comentou na edição seguinte:
“Registrar
uma renda desta em jogos como este, é prejudicar o esporte local, é fechar as
portas ao interesse de clubes de fora para a realização de amistosos”.
Na
preliminar do clássico envolvendo os dois tricolores, o Bahia chegou ao título
da segunda divisão, os “aspirantes” como se dizia, ao vencer o Vasco da Gama
pelo escore de 5x0.
Como profissional, logo em 1956, o Fluminense foi vice-campeão e em 1959 foi eleito pela ABCD (Associação Baiana de Cronistas Desportivos) o melhor plantei da temporada. O invencível time de aspirantes foi bicampeão em 1960/1961 e em 1963 chegaria afinal ao primeiro título de campeão baiano, numa disputa melhor de três jogos com o Esporte Clube Bahia.
FLUMIENENSE DE FEIRA FAIXA DE CAMPEÃO-1969 Nadinho, Sapatão, Mário Braga, Delorme, Noroel e Luiz Alberto Pinheirrinho, Freitas, João Daniel, Medrrinho e Marcos Chinês |
O
clube feirense foi o único representante do interior na divisão de profissionais
até 1967. Naquele ano o presidente da FBF, advogado Carlos Alberto de Andrade,
estadualizou o campeonato. Inicialmente convidou outro clube local, o Bahia de
Feira, que viraria Feira Esporte Clube, e mais Conquista, Itabuna, Colo-Colo,
Flamengo e Cruzeiro da Vitória, estes três últimos da cidade de Ilhéus.
No seu primeiro período de
grandes conquistas, que vai até 1963, ano do título de campeão baiano, além de
Durval Cunha, também passaram pelo comando técnico Ariston Carvalho, Enaldo Rodrigues, Pedrinho Rodrigues, Sotero Monteiro, Fernando Lopes, Manoel Mesquita - Maneca, Antônio Conceição e outros.A segunda fase, trambém de outras glórias, como título inédito de 1969, durou até 1971. Sem fralar no regra três Geraldo Pereira, foram técnicos do tricolor, entre outros, Paulo Emílio, Zé Maria, Carlos Volante, João Paulo - o Pinguela, JoubertMeira e principalmenteWalter Miráglia e Evaristo Macêdo.
Após a grande campanha de 1971, sob o comando de Evaristo Macedo, logo no ano seguinte o clube entrou em crise e, abandonado por alguns figurões, terminou baixando na UTI. O óbito só não aconteceu graças a ação de meia dúzia de abnegados torcedores como Alcione da Prefeitura, Adolfo da Dislar, Xavier contador, Gersinho da Chevrolet, Gileno da livraria e outros.
A partir daquele ano, em que pese algumas participações no Campeonato Nacional, quase todas bisonhas mesmo quando integrando as séries inferiores, o Fluminense deixou de ser o bravo touro pioneiro, alegria da torcida tricolor.
Mesmo assim muitos ainda sonham de novo no estádio, empenhando a bandeira, estufando o peito e brandando como nos velhos tempos: "Avante, avante Fluminense, é hora, é hora, queremos mais um gol..."
Transcrito da revista "História e Estórias dos
Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos).
Edição Especial do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana
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