Evandro J.S. Oliveira |
Li também há tempos um livro sobre "Os homens da montanha e os da planície". Resumo da tese: Os da montanha eram caçadores e os da planície eram agricultores. Os primeiros viviam com muitas dificuldades, se tornavam fortes e grandes guerreiros. Por consequência expulsavam os homens da planície, que eram poucos
habilitados a guerra. Gerações seguintes, os expulsos para as montanhas desenvolviam as atividades adequadas à batalha, e retornavam às planícies criando um ciclo. O texto abaixo casa com os lidos acima.
"Me deixa! Estou estressado!"
A geração que se estressa e se frustra por tudo. Que se
considera eternamente infeliz.
O que buscam esses meninos? O que lhes prometeram? Que o
importante é ser feliz? Que ele pode ser o que quiser no lugar que quiser? Que
se estudar faculdade X vai se realizar, que se estudar na escola Y vai passar
direto e depois é só correr para o abraço?
Jovens que vão aos consultórios com demandas frágeis e de
muito sofrimento. A dor da falta do não faltar. Sensação de não pertencimento, de estar perdido, de
não saber o que quer da vida, nem saber se quer alguma coisa. Geração de poucos
adjetivos. O show das três bandas foi TOP, a viagem à Disney foi LEGAL. O
aniversário no buffet foi NORMAL. O casamento da melhor amiga foi CHATO. E se
sente frustrado, mas não identifica o que lhe falta. Chora pelo golfinho
ferido, mas não tira seu prato da mesa do shopping. A culpa é do machismo, é
dos fascistas, das feministas, dos petistas, dos istas.
Colaborar em casa é "favor", arcar com despesas
nem pensar, participar de tarefas, seja para fazer compras no supermercado,
alimentar os dogs, ir ao banco, cartório, farmácia... tudo é postergado, é
exaustivo. Geração das polpas de frutas, não descasca laranja, não chupa caroço
de manga. Vive de sonhos áureos, mas não quer pisar no chão quente para
alcançá-los. Começar a trabalhar sem muito ganhar, nem pensar. Quem marca suas
consultas, médicos, dentistas? Não visita avós, não sai de seus quartos
fantasiando no mundo irreal do Instagram. Aponta defeitos em comentários nas
redes sociais. Não elogia. Acredita que todos exigem muito deles. Não oferece
seus préstimos. Reclama do mínimo obstáculo. Culpa os pais por "forçarem a
barra".
Na escola, solucionaram problemas matemáticos em turmas
avançadas e não conseguem solucionar problemas reais de tirar segunda via de
boletos, de ir à repartição pública e lidar com burocracias... Querem respostas
rápidas, fáceis e ficam aborrecidos sempre, mesmo quando essa resposta vem.
Entediam-se. Trocam de escola, de curso, de emprego, de parceiros, de amigos,
nada e nem ninguém os compreende. Nada preenche. Culpam o sistema, a família, o
amigo difícil, o porteiro chato, a coordenadora do curso, a lei, o chefe que
exige. Reclama do almoço, de não ter roupa pra sair, de não ter dinheiro. Passa
o dia no ar-condicionado, consumindo o salário dos pais. Anda de carro, uber,
táxi... Não lava suas cuecas nem suas calcinhas. Não busca conhecimento. Nem
espiritualidade. Não se encanta com decorações natalinas, nem com um ipê
florido no meio da avenida. Reivindica direito de expressão e não oferece ação.
Atitude. Considera-se vítima dos pais. Julgam. Juízes duros! Impiedosos!
Condenam. Choram pelo cachorro maltratado e desejam que o homem seja
esquartejado. Compaixão duvidosa. Amorosidade mínima. "Preciso disso! Tem
que aquilo!" E haja insatisfação! Infelicidade. Descontentamento.
Adoecimento. Depressão. Suicídio...
Geração estragada. Inconformada. Presa em suas desculpas.
Acomodada em suas gaiolas de ouro. Inerte, não assume a responsabilidade de
viver, de se mexer, de traçar seu caminho, de enfrentar o que está fora da
caverna de Platão.
Posta sorrisos, praias paradisíacas, mas não se banha no mar
curador. Limpa o lixo na praia com os
amigos e não arruma a própria cama. Em casa, estampa tristeza, sofrimento,
dor... a dor de ter que crescer sem fazer por onde merecer.
(Cristiane Soares Galdino, psicóloga)
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