Adilson Simas |
Não podemos afirmar com exatidão, mas
parece-me que a Santa Casa de Misericórdia foi fundada em 1865 sem que houvesse
um médico residente em Feira de Santana.
No livro “A Feira no século XX”, o escritor e poeta
Antônio Moreira Ferreira [na foto acima] destaca os primeiros médicos
residentes em Feira de Santana, aqui clinicando a partir da Santa Casa de
Misericórdia fundada no século XIX, mais precisamente em 1865. O escritor
ressalta o trabalho de Joaquim Remédios Monteiro e Gastão Clóvis Guimarães [na
foto abaixo] em tempos distintos, além de citar outros como Fernando São Paulo,
Honorato Bonfim e Joaquim D’Almeida Couto. Vale a pena a leitura do texto.
- Não podemos afirmar com exatidão, mas parece-me
que a Santa Casa de Misericórdia foi fundada em 1865 sem que houvesse um médico
residente em Feira de Santana.
Gastão Guimarães |
Remédios Monteiro |
O Dr. Joaquim Remédios Monteiro, ao que sabemos,
chegou em Feira entre 1880 e 1890 e, embora tenha vindo em busca da sua saúde
dentro do bom clima de Feira, foi realmente o primeiro médico residente a
clinicar nesta cidade, quando já existia a Santa Casa de Misericórdia.
Quanto ao segundo médico, ainda depende de uma
pesquisa (1º trabalho para a futura Academia de Medicina de Feira de Santana?),
pois está muito próximo o período entre Dr. Fernando São Paulo, Dr. Gastão
Guimarães, Dr. Honorato Bonfim e o Dr. Joaquim D'Almeida Couto.
Os quatro atuaram na década de 10, porém só temos
certeza da residência do Dr. Gastão Guimarães que, em 1914, já se firmara em
Feira.
Os primeiros médicos aqui chegados, fizeram o
trabalho de verdadeiros desbravadores do atavismo, oriundo do sincretismo que
misturava curas, religiões, superstições, com rezas, chás, etc.
Dr. Gastão fez um trabalho de catequese tão
perfeito, que não foi muito difícil vacinar o povo contra varíola e
posteriormente contra a peste bubônica.
É bom lembrar que, então, não existiam escolas de
2º grau e a maioria das escolas primárias eram regidas por professoras leigas
e, assim, não podiam ajudar muito naquele campo.
Por oportuno, lembramos que a escova de dente
chegou em Feira no fim da década de 30. O campo da higiene foi outro que coube
aos primeiros médicos o trabalho da educação. E, para tanto, tinham que descer
do seu linguajar clássico para o coloquial do tabaréu da região.
Agora me lembrei de uma história, contada por meu
avô, acontecida aqui em Feira quando Dr. Remédios Monteiro começou a clinicar.
Segundo ele, existia um fazendeiro na região que,
apesar de rico, era muito ignorante. Desejando educar a filha única (Mariinha),
mandou-a para um colégio em Salvador donde, tempos depois, voltou professora.
Ao regressar da capital, encontrou sua mãe doente.
Perguntando ao pai pela doença da sua genitora, o velho respondeu sem titubear:
- "Tá cum tumô na bunda."
Ela, então, aconselhou levá-la imediatamente ao
médico.
Enquanto preparavam o carro de boi para levá-la
deitada, a moça chamou o pai em particular e recomendou: - "Quando o senhor
chegar ao médico, não fale em tumor na bunda. Diga: tumor nas nádegas." -
Com um pouco de dificuldade, o velho entendeu que a palavra "bunda"
era, então, indecente.
Depois de algumas horas de viagem, chegaram ao
consultório do médico, que mandou o casal entrar. A moça preferiu ficar do
outro lado do cubículo, o qual era dividido por tábuas de meia altura.
Inicialmente, o Dr. Remédios perguntou ao velho o
que havia com sua esposa, e ele disse que ela estava com tumor... como não
conseguiu lembrar das nádegas, pôs a cabeça sobre o tablado e perguntou em voz
alta: -
"Mariinha!!! como é mesmo o apelido que você
botou na bunda de sua mãe?".
Publicado em - http://bahiaja.com.br/saude/noticia/2018/01/22/feira-em-historia-os-primeiros-medicos-de-feira-por-adilson-simas,107282,0.html
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