Hugo Navarro Silva |
A palavra encobre mistérios e poder desconhecidos da maioria
das pessoas. Tribos africanas acreditam na existência da palavra seca e da úmida. Uma
seria da divindade antes de se manifestar na criação. A outra teria nascido com
o homem. É a que entra pelas orelhas
como luz e fecunda na criação. Verdadeira manifestação divina, está na crença e lendas da maioria dos povos.Na
tradição cristã há o verbo divino e o verbo encarnado. Segundo alguns analistas,
de acordo com as Escrituras, existem a palavra divina, preexistente à criação,
e a palavra divina que nos é transmitida pelo Novo Testamento. Na Bíblia a
palavra pronunciada é tratada como ser real, semelhante ao hálito, que sai da
boca, sem possiblidade de volta, de acordo como a enxergou Horácio. Continua a
existir, mesmo depois de pronunciada, pelo que pode provocar de bem ou de mal.
Daí, provavelmente, o ditado: “a palavras loucas, orelhas moucas”, encontrado
em diversas línguas com algumas variantes.
É conhecida e proclamada a influência da palavra em todas as
atividades humanas, tão forte que levou Ruy Barbosa a escrever que “Embora as maiores instituições humanas se
alienem, ou enxovalhem, resta-nos sempre uma, tão nova nos lábios de Gladstone
como nos de Péricles: a instituição divina da palavra, capaz só por só de reconquistar todas as outras,
quando associada à misteriosa
onipotência da verdade”.
Na política e na propaganda partidária a palavra, presente
em todas as oportunidades, tem exercido enorme poder sobre o povo em todas as partes
do mundo.
No Brasil o discurso político sempre gozou de admiração e
prestígio a partir dos grandes tribunos
que brilharam no Senado do Império e serviram de modelo e inspiração
para a classe política brasileira, que
provavelmente encontrou seu ponto mais alto, no campo do
domínio da palavra, na República de
1946, com oradores como Carlos Lacerda, Otávio Mangabeira, Antônio Balbino de
Carvalho, Tarcílio Vieira de Melo, Afonso Arinos de Melo Franco, Aliomar
Brasileiro e a famosa “orquestra da UDN”, quando atuavam na Câmara dos Deputados.
Atribui-se à Revolução de 64 culpa pela ausência de autênticas
lideranças no país de hoje, a que poderíamos acrescentar também a quase
inexistência de políticos capazes de empolgar pela palavra e pela clareza de suas
ideias. São, normalmente, grosseiras versões dos grandes líderes e oradores do
passado, que enobreciam a vocação para a luta partidária, substituídos por nova
classe de políticos, a daqueles de linguagem e ideias limitadas e obscuras.
A novidade não pode ser debitada somente ao Brasil, porque
geralmente se instalou em países de tênues tradições democráticas, baixa escolaridade e pouco entendimento do
que é a coisa pública.
Frente
aos novos tempos, em que política partidária significa, sobretudo, interesses
de ordem personalíssima, o discurso perdeu majestade. Figuras e arabescos de
linguagem, demonstrações de cultura e de verdadeiro conhecimento dos problemas
da nação deram lugar à demagogia pura e simples, sem rebuços e sem máscaras,
usando, em muitos casos, de fatos
verdadeiros para desenvolver gigantescas redes de enganação e mentiras, que
durante anos servem de base para campanhas partidárias e reeleições. São
notícias repetidas e ampliadas de grandezas quase miraculosas que vão fazer a
felicidade e a riqueza do povo, em torno das quais se desenvolve intensa publicidade.
Só que os resultados não aparecem, o que não impede que muitos continuem a
acreditar em pré-muita coisa neste país.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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