Hugo Navarro da Silva |
Mauro Moraes, de extensa e vitoriosa carreira na Polícia
Civil bahiana, ao ser indicado para a meio cabalística e metafísica Secretaria
de Prevenção à Violência e Promoção dos Direitos Humanos, velho e competente policial, colocou de maneira correta a posição
da Guarda Municipal no governo que teve início no dia primeiro do mês corrente.
Falando, dias depois, confirmou o que está na lei e, muito
mais importante, na Constituição, que o senador
Ulisses Guimarães chamou, quase derramando lágrimas, diante de Nação
abestalhada, de “Constituição Cidadã”, no que muita gente acreditou, pelo menos
naquela hora grave (quando o Congresso Nacional promulgava a Lei Magna de 88),
de grande solenidade, mostrando, entretanto, o enorme poder que têm, para mover espíritos e crenças de qualquer
pessoa e de qualquer povo, o momento, o cenário, a montagem do espetáculo mas, sobretudo, as
palavras apropriadas, dirigidas, inteligentemente, no momento certo, a auditório um tanto ou quanto embasbacado e
com a emoção a lhe apertar as guelras.
Com a palavra, Hitler começou a conquistar poder que quase
destrói o mundo civilizado, caminho trilhado, antes, por outros “salvadores” do
povo sofredor, como Lenine, que resultou no que quase todo mundo faz questão de
esquecer mas sempre encontrará seguidores,
grandes e pequenos, em todas as partes.
O resultado da “Constituição Cidadã”, de tão apregoados
méritos, é que a União embolsa setenta e cinco por cento da renda tributária
nacional. A sobra das gigantescas
despesas do governo federal fica para ser distribuída entre vinte e seis
Estados e cinco mil, quinhentos e sessenta e oito Municípios, a maioria vivendo
na penúria, endividada, carente de
serviços essenciais, nos batentes do governo federal a implorar por dinheiro
como cegos que antigamente pediam esmolas à porta das igrejas.
A Constituição estabelece que as populações, ainda que
maltrapilhas, ignorantes e famintas, devem eleger, regularmente, deputados
federais e senadores como seus legítimos representantes e supostos defensores
impolutos. São indivíduos eleitos, entretanto, apenas para tentar competir por
dinheiro até em cabos de guerra. Podem, eventualmente, dar cambalhotas, falar
ou fazer alguma outra coisa a que ninguém dá importância. O poder de legislar a
Constituição entregou ao Executivo de tal forma que ao legislador apenas resta disputar verbas e, para tanto, o que
significa, nos dias atuais, enorme conquista de efeitos eleitorais, o sujeito tem que
apoiar inteiramente o governo, com a obrigação de encobrir e aplaudir malfeitos e malfeitores, e a
possibilidade de participar de roubalheiras, com o que a oposição desaparece e
fica estabelecida a ditadura de partido, ou o sistema do partido único,
que no Brasil é buscado com afinco, mas tão perigoso para os interesses do povo
como a ditadura declarada e franca.
Qual a vantagem de participar de semelhante União?
O caso da Guarda Municipal pode parecer insignificante, mas
não é. A Guarda, nos últimos anos, diante de sua persistente atuação junto à
mídia, vinha dando a entender a muita gente, aos que sabem das coisas e aos que
não sabem, que estava assumido a responsabilidade da segurança pública do
Município. E de tal maneira cresceu em publicidade, exigências e empáfia, que
chegamos a temer que um dia a Guarda
poderia dar o golpe, assumir a Prefeitura e por o prefeito a correr para
o Uruguai.
A Guarda é necessária e útil. Ninguém nega, mas dentro de
suas limitações constitucionais e nisto está certo o novo secretário. Não é
correto isentar o governo do Estado da Bahia de uma de suas principais
obrigações, a de dar segurança aos que nesta terra vivem e trabalham
honestamente.
Uma virtude temos que creditar à Guarda, entretanto, durante
seu período de euforia e poder: o telefone funcionava.
Hugo Navarro
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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