Hugo Navarro Silva |
Nos tempos bíblicos cidade era a povoação geralmente situada
nas proximidades de fonte e circundada de muralhas, ao contrário de aldeias,
arraiais ou acampamentos. As muralhas funcionavam como proteção contra inimigos
e visitantes indesejáveis. As mais famosas são as da China, que sobrevivem como
atração turística e demonstração do que o homem é capaz se dispuser de poder e
dinheiro. A China, antes da Revolução, costumava manter bairros para
morada de europeus. Eram locais cercados de muros em alguns casos
fortificados.
Cidades existem de modo variado. Morar em qualquer uma
delas, há quem afirme, é viver no inferno, embora ninguém queira mudar-se para
o paraíso como afirmava Júlio Camargo.O mundo conhece a Cidade Santa, Jerusalém,
sagrada para o Islamismo, o Catolicismo e o Judaísmo, fato que tem sido motivo
de guerras, desavenças e carnificinas que
começaram com as Cruzadas e permanecem até
hoje de forma desenfreada e cada
vez mais violenta, não se sabendo em que essa matança milenar contribui para a
salvação das almas, aperfeiçoamento da
humanidade e satisfação das sábias determinações da divina providência. Há,
ainda,a Cidade Eterna, capital e território de um dos menores países soberanos
do mundo, o Vaticano. Eventualmente, em
tempos de guerra, havia a “cidade aberta”, não armada ou defendida, condição
que a livrava de bombardeios, destruição e combates. A noção de “cidade aberta”
desapareceu na 2ª. Grande Guerra com Hitler e a blitzkrieg e os japoneses
quando impiedosamente bombardearam desarmadas cidades chinesas.
A Geografia Política
registra a existência de cidades, que dentro do âmbito de estado soberano gozam
de vasta autonomia como no caso de Dantzig (atual Gdansk) cidade livre criada
pelo Tratado de Versailles, encravada no território da Polônia.
A fertilíssima imaginação popular tem criado, no folclore
brasileiro, outro tipo de cidade, a submersa. Conforme diversos depoimentos essas
cidades produzem sons, ruídos, rumores, repiques de sino e até clamores próprios
da raça humana. Olavo Bilac, em
conferência, tratou da lenda da cidade submersa do Rio Gurupi, no Pará. Luis da
Câmara Cascudo relata a lenda do Lago Uaçu, no Maranhão, onde existia ruidosa cidade submersa. Ainda no
Pará existe a cidade de Maiandéua, no fundo do rio do mesmo nome. Há quem
afirme que no leito do Rio Madeira está a cidade de Sapucaiaoroca, cheia de
índios que podem ser vistos quando a água fica transparente. Mário de Andrade
relata que na Lagoa Santa, em Minas Gerais, na noite de Natal soam sinos e
ouvem-se cânticos dos frades em catedral de cidade submersa.
Cidades, todas elas, têm características, modos de ser que
as distinguem umas da outras. Feira de Santana, por exemplo, nasceu com a
vocação de sede de negócios, de compra e venda. Várias tentativas têm sido
feitas para amenizar esse caráter puramente comercial e dar à cidade caminhos
diferentes, que possam conduzi-la a conquistar outras atividades como a do
turismo. Conseguimos, é verdade, o que pode ser considerado rudimentar turismo
de negócios, com o Feiraguai, que não tem por onde evoluir. As tentativas de
conferir a Feira de Santana características que a afastassem do lugar comum
fracassaram ou foram abolidas por quem pouca importância dava à vida e ao futuro da cidade. A extinção da parte
popular das Festas de Santana é o exemplo mais lamentável e danoso.
Secretário municipal, Jailton Batista, quer, agora, realçar
a época natalina promovendo espetáculos, dando luzes, música e vida a cidade
cada vez mais cinzenta e inexpressiva. Não há como deixar de apoiar e aplaudir a
iniciativa.
Hugo
Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio
Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do
Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria
produzida
Nenhum comentário:
Postar um comentário