Raimundo Falcão de
Oliveira
Nasceu, em Feira de Santana, no dia 24 de abril de 1930,
e morreu em Salvador, no dia 17 de janeiro de 1966. Era filho do Sr. Arsênio de
Oliveira e D. Leolinda Falcão de Oliveira. Estudou na Escola da Professora
Margarida Brito. Muito tímido, devido aos cuidados exagerados dispensados por
sua mãe, lá estava ele como sempre triste à margem das brincadeiras e jogos com
seus colegas. Preferia a companhia de sua mãe e de uma vizinha que o levava às
aulas de catecismo. Criado com mimo, filho único, ficava fascinado por pinturas
em almofadas, em vidro, em alto relevo, que sua mãe fazia entre as prendas
domésticas. Na Escola, descobriram as suas aptidões e o convidaram a desenhar
cenas históricas.
Quando ginasiano, estimulado pela professora de desenho, D. Hermengarda, retratou o rosto dos professores e esses desenhos formaram, praticamente, a sua primeira exposição, num dos salões do Ginásio Santanópolis do saudoso orador Áureo Filho. Em 1950, expôs na Prefeitura Municipal de Feira de Santana. No ano seguinte, em outra exposição no hall da Prefeitura, segundo jornal da época, convidando jovens feirenses a participar da exposição de desenho “para com ela manifestar vocações artísticas” e, entre 16 e 26 de dezembro do mesmo ano, expôs no Salão Nobre do Ginásio Santanópolis. Sentiu-se já um artista, mas um artista de Deus, pois surgiu- lhe outra vocação: a vida religiosa. Sua tia D. Anália fez sua matrícula no Seminário de Santa Tereza, em Salvador, às escondidas do pai que não desejava a carreira sacerdotal para o filho.
Alguns anos depois, estourou um escândalo em Feira de Santana: Raimundo deixara a batina. Esse jovem que desde cedo, gostava de telas e pincéis matriculou-se na Escola de Belas Artes de Salvador, onde teve como amigos Mário Cravo, Jenner Augusto e Rubem Valentim.
Sua primeira fase artística consta de igrejas, paisagens, cenas de roça e de cabaré.
Em 1952, em homenagem à Escola Normal que completava 25 anos, organizou, com o saudoso intelectual Dival Pitombo, a primeira exposição de arte moderna em Feira de Santana, na qual figuraram trabalhos seus ao lado de Portinari, Pancetti, Volpi, Djanira e outros luminares da arte brasileira. A esse vernissage compareceram Mário Cravo e outros artistas baianos. E dela nasceu a primeira ideia de um museu nesta cidade, só mais tarde concretizado por Assis Chateaubriand.
Em 4 de junho de 1953, expôs no haIl da Prefeitura de Feira de Santana, apresentando cerca de sessenta obras, utilizando óleo, aquarela e guache, e, em 30 de setembro desse mesmo ano, na Galeria Oxumaré, inaugurou uma exposição onde obteve sucesso absoluto. Pintou com violência. Tudo era doloroso à sua volta, nas visões de azul e vermelho.
Antes de viajar para São Paulo, em 1954, para fazer um curso de pintura moderna com Cândido Portinari, fez alguns desenhos em nanquim para ilustração de um ensaio do poeta Eurico Boaventura.
Em 1956, expôs no Belveder da Sé, em Salvador.
Em 1957, expôs numa Galeria de Arte de Buenos Aires, na Argentina.
Em 1958, já radicado na capital paulista, alcançou sua completa consagração. Num apartamento da Vila Buarque, o feirense triste e sério trabalhou seus quadros. A sua exposição na Galeria “Folhas”, registrada por toda imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, foi largamente elogiada pela crítica especializada. A sua pintura trouxe uma série de imagens bíblicas as quais aparecem com nova forma, estilo pessoal, integrando o mundo das artes à religião.
Raimundo Oliveira realizou muitas exposições e várias cidades possuem trabalhos seus. No exterior, entre outros, o Museu Hermitagem. Participou de várias coletivas: III, V, VI Salão Baiano de Belas Artes (Divisão de Arte Moderna); II Salão Universitário Baiano de Belas Artes; II e V Salão Nacional de Arte Moderna de São Paulo; 1 Festival de Arte Moderna — Curitiba; 1 Exposição de Arte Sacra Contemporânea, em São Paulo; Exposição de Artistas da Bahia — Museu de Arte Moderna, de São Paulo; Exposição do Círculo dos Amigos da Arte — Porto Alegre; Exposições de 1962 e 1963 do Acervo da Casa do Artista Plástico, em São Paulo; Exposição — 47 artistas na Galeria Seta; 1 Bienal Internacional de Arte Sacra Contemporânea — 1958, em Buenos Aires; VII de São Paulo, em 1963; Galeria Bonino de Buenos Aires; Consulado Brasileiro, em Munique, Alemanha; Museu Nacional de Tel-Aviv — Israel — 1964; Museu de Arte Moderna — 1965, em Salvador.
Em 1966, fez uma exposição, no Rio de Janeiro, que foi um verdadeiro sucesso, viajou para São Paulo e, de lá, para Salvador. Ninguém sabia da sua presença na Bahia. Chegou no dia 13 de janeiro, hospedando-se no Hotel São Bento. Foi visto pela última vez no dia 16, domingo, na hora do almoço. Foi encontrado morto três dias depois. Tinha uma personalidade frágil e era solitário, no meio de muitos amigos. Maníaco-depressivo, andava sempre vestido de preto, por vergonha de exibir o próprio corpo. Um ano antes de morrer, Raimundo confessara aos amigos sua intenção de dedicar-se ao sacerdócio. A pintura e a religião foram as suas grandes vocações. Em sua obra; há o mesmo desespero que deixam transparecer as teias de Van Gogh. Ao lado de uma caixa vazia de comprimidos para dormir, deixou aos amigos um bilhete, alegando motivo financeiro, “pedindo desculpas pela descortesia de ter saído pela porta proibida”. Como sabemos, em sua última exposição na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, Raimundo teve uma média de cotação de um milhão e duzentos mil cruzeiros por quadro e, mesmo descontando impostos, marchands, etc, obteve uma bela soma.
Após a sua morte, verificou-se uma verdadeira correria para aquisição de suas obras, cujos preços, se já eram altos durante a vida do pintor, triplicaram então. Suas telas hoje valem fortuna e são raros os afortunados que as possuem. Há uma enorme curiosidade em torno da vida desse artista de tema bíblicos, tão prematuramente desaparecido (36 anos). Entretanto, na sua terra natal, onde alguns colecionadores foram inúmeras vezes agraciados com suas telas, nunca externaram o desejo de realizar uma retrospectiva como forma de homenageá-lo.
A revista SITIENTIBUS n. 1, que tem como editor o conceituado Prof. Raymundo Luiz de Oliveira Lopes, publicou o auto-retrato do seu xará, na contra-capa. Também a revista Veja, na edição n 1 .489, para ilustrar a capa de duas reportagens sobre temas religiosos, escolheu quadros do nosso querido Raimundo de Oliveira.
Quando ginasiano, estimulado pela professora de desenho, D. Hermengarda, retratou o rosto dos professores e esses desenhos formaram, praticamente, a sua primeira exposição, num dos salões do Ginásio Santanópolis do saudoso orador Áureo Filho. Em 1950, expôs na Prefeitura Municipal de Feira de Santana. No ano seguinte, em outra exposição no hall da Prefeitura, segundo jornal da época, convidando jovens feirenses a participar da exposição de desenho “para com ela manifestar vocações artísticas” e, entre 16 e 26 de dezembro do mesmo ano, expôs no Salão Nobre do Ginásio Santanópolis. Sentiu-se já um artista, mas um artista de Deus, pois surgiu- lhe outra vocação: a vida religiosa. Sua tia D. Anália fez sua matrícula no Seminário de Santa Tereza, em Salvador, às escondidas do pai que não desejava a carreira sacerdotal para o filho.
Alguns anos depois, estourou um escândalo em Feira de Santana: Raimundo deixara a batina. Esse jovem que desde cedo, gostava de telas e pincéis matriculou-se na Escola de Belas Artes de Salvador, onde teve como amigos Mário Cravo, Jenner Augusto e Rubem Valentim.
Sua primeira fase artística consta de igrejas, paisagens, cenas de roça e de cabaré.
Em 1952, em homenagem à Escola Normal que completava 25 anos, organizou, com o saudoso intelectual Dival Pitombo, a primeira exposição de arte moderna em Feira de Santana, na qual figuraram trabalhos seus ao lado de Portinari, Pancetti, Volpi, Djanira e outros luminares da arte brasileira. A esse vernissage compareceram Mário Cravo e outros artistas baianos. E dela nasceu a primeira ideia de um museu nesta cidade, só mais tarde concretizado por Assis Chateaubriand.
Em 4 de junho de 1953, expôs no haIl da Prefeitura de Feira de Santana, apresentando cerca de sessenta obras, utilizando óleo, aquarela e guache, e, em 30 de setembro desse mesmo ano, na Galeria Oxumaré, inaugurou uma exposição onde obteve sucesso absoluto. Pintou com violência. Tudo era doloroso à sua volta, nas visões de azul e vermelho.
Antes de viajar para São Paulo, em 1954, para fazer um curso de pintura moderna com Cândido Portinari, fez alguns desenhos em nanquim para ilustração de um ensaio do poeta Eurico Boaventura.
Em 1956, expôs no Belveder da Sé, em Salvador.
Em 1957, expôs numa Galeria de Arte de Buenos Aires, na Argentina.
Em 1958, já radicado na capital paulista, alcançou sua completa consagração. Num apartamento da Vila Buarque, o feirense triste e sério trabalhou seus quadros. A sua exposição na Galeria “Folhas”, registrada por toda imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, foi largamente elogiada pela crítica especializada. A sua pintura trouxe uma série de imagens bíblicas as quais aparecem com nova forma, estilo pessoal, integrando o mundo das artes à religião.
Raimundo Oliveira realizou muitas exposições e várias cidades possuem trabalhos seus. No exterior, entre outros, o Museu Hermitagem. Participou de várias coletivas: III, V, VI Salão Baiano de Belas Artes (Divisão de Arte Moderna); II Salão Universitário Baiano de Belas Artes; II e V Salão Nacional de Arte Moderna de São Paulo; 1 Festival de Arte Moderna — Curitiba; 1 Exposição de Arte Sacra Contemporânea, em São Paulo; Exposição de Artistas da Bahia — Museu de Arte Moderna, de São Paulo; Exposição do Círculo dos Amigos da Arte — Porto Alegre; Exposições de 1962 e 1963 do Acervo da Casa do Artista Plástico, em São Paulo; Exposição — 47 artistas na Galeria Seta; 1 Bienal Internacional de Arte Sacra Contemporânea — 1958, em Buenos Aires; VII de São Paulo, em 1963; Galeria Bonino de Buenos Aires; Consulado Brasileiro, em Munique, Alemanha; Museu Nacional de Tel-Aviv — Israel — 1964; Museu de Arte Moderna — 1965, em Salvador.
Em 1966, fez uma exposição, no Rio de Janeiro, que foi um verdadeiro sucesso, viajou para São Paulo e, de lá, para Salvador. Ninguém sabia da sua presença na Bahia. Chegou no dia 13 de janeiro, hospedando-se no Hotel São Bento. Foi visto pela última vez no dia 16, domingo, na hora do almoço. Foi encontrado morto três dias depois. Tinha uma personalidade frágil e era solitário, no meio de muitos amigos. Maníaco-depressivo, andava sempre vestido de preto, por vergonha de exibir o próprio corpo. Um ano antes de morrer, Raimundo confessara aos amigos sua intenção de dedicar-se ao sacerdócio. A pintura e a religião foram as suas grandes vocações. Em sua obra; há o mesmo desespero que deixam transparecer as teias de Van Gogh. Ao lado de uma caixa vazia de comprimidos para dormir, deixou aos amigos um bilhete, alegando motivo financeiro, “pedindo desculpas pela descortesia de ter saído pela porta proibida”. Como sabemos, em sua última exposição na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, Raimundo teve uma média de cotação de um milhão e duzentos mil cruzeiros por quadro e, mesmo descontando impostos, marchands, etc, obteve uma bela soma.
Após a sua morte, verificou-se uma verdadeira correria para aquisição de suas obras, cujos preços, se já eram altos durante a vida do pintor, triplicaram então. Suas telas hoje valem fortuna e são raros os afortunados que as possuem. Há uma enorme curiosidade em torno da vida desse artista de tema bíblicos, tão prematuramente desaparecido (36 anos). Entretanto, na sua terra natal, onde alguns colecionadores foram inúmeras vezes agraciados com suas telas, nunca externaram o desejo de realizar uma retrospectiva como forma de homenageá-lo.
A revista SITIENTIBUS n. 1, que tem como editor o conceituado Prof. Raymundo Luiz de Oliveira Lopes, publicou o auto-retrato do seu xará, na contra-capa. Também a revista Veja, na edição n 1 .489, para ilustrar a capa de duas reportagens sobre temas religiosos, escolheu quadros do nosso querido Raimundo de Oliveira.
A ideia de uma retrospectiva está lançada. Que os amantes das artes possam
concretizá-la, já que esse renomado feirense deixou-nos uma obra grandiosa e
figura como um dos mais cotados da arte moderna brasileira e internacional.
Fonte: Cruz, Neide Almeida - Revista Instituto Histórico Geográfico de Feira de Santana, ano I, nº1 p. 157-159, 2014.
Comentário Crítico
A obra de Raimundo de Oliveira - desenho, guache, óleo e gravura - se desenrola no universo religioso, com santos, imagens e cenas bíblicas representados de diversas formas. Os críticos tendem a distinguir duas fases em sua produção em função das variações observadas no tratamento dado ao tema. Nas décadas de 1950 e 1960 predominam as composições com cores sombrias e caráter expressionista - as figuras marcadas por traços dolorosos e dramáticos, definidas com nanquim e contornos negros, como Cabeça de Cristo, 1957, Crucificado, s.d., e Moisés, 1960 - e algumas leituras mostram afinidades com a pintura de Georges Rouault. Em outro momento, as telas aproximam-se dos pequenos enredos, elaborados com o auxílio de figuras apequenadas (mais humorísticas que trágicas, pelas deformações e desproporções), que se repetem por causa das situações apresentadas. Estruturadas geometricamente, por um equilíbrio de planos horizontais e verticais, as novas telas possuem dinamismo particular, obtido pelos espaços construídos com base em círculos. A energia das cores vibrantes e o dinamismo da tela são as marcas salientes dessa fase, visto em O Sonho de Jacob, s.d. Além das influências simbolistas e da arte naif de Henri Rousseau, são perceptíveis, nessa fase, ecos da arte popular nordestina brasileira. O universo religioso é lido da ótica das festas e da religiosidade popular, misturando-se frequentemente ao mundo profano - procissões, bumba-meu-boi, altares domésticos etc. Os enredos e modos de figuração, por sua vez, remetem à arte dos gravadores e ceramistas do Nordeste. Elementos retirados da paisagem nacional, como árvores e animais tropicais, são outra forma de articular o erudito e o popular, o universal e o nacional - Jesus no Horto das Oliveiras, 1962, e Chegada em Jerusalém, 1964.
A obra de Raimundo de Oliveira - desenho, guache, óleo e gravura - se desenrola no universo religioso, com santos, imagens e cenas bíblicas representados de diversas formas. Os críticos tendem a distinguir duas fases em sua produção em função das variações observadas no tratamento dado ao tema. Nas décadas de 1950 e 1960 predominam as composições com cores sombrias e caráter expressionista - as figuras marcadas por traços dolorosos e dramáticos, definidas com nanquim e contornos negros, como Cabeça de Cristo, 1957, Crucificado, s.d., e Moisés, 1960 - e algumas leituras mostram afinidades com a pintura de Georges Rouault. Em outro momento, as telas aproximam-se dos pequenos enredos, elaborados com o auxílio de figuras apequenadas (mais humorísticas que trágicas, pelas deformações e desproporções), que se repetem por causa das situações apresentadas. Estruturadas geometricamente, por um equilíbrio de planos horizontais e verticais, as novas telas possuem dinamismo particular, obtido pelos espaços construídos com base em círculos. A energia das cores vibrantes e o dinamismo da tela são as marcas salientes dessa fase, visto em O Sonho de Jacob, s.d. Além das influências simbolistas e da arte naif de Henri Rousseau, são perceptíveis, nessa fase, ecos da arte popular nordestina brasileira. O universo religioso é lido da ótica das festas e da religiosidade popular, misturando-se frequentemente ao mundo profano - procissões, bumba-meu-boi, altares domésticos etc. Os enredos e modos de figuração, por sua vez, remetem à arte dos gravadores e ceramistas do Nordeste. Elementos retirados da paisagem nacional, como árvores e animais tropicais, são outra forma de articular o erudito e o popular, o universal e o nacional - Jesus no Horto das Oliveiras, 1962, e Chegada em Jerusalém, 1964.
Comentário Crítico. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
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