Evandro J.S. Oliveira |
Pegando o verso do poeta Santanopolitano, Ismael Bastos, sobre “O BECO DA ENERGIA”, postado
neste Blog em 24/11, fui longe para minha infância e juventude. Testemunha
ocular da vida nesta região, calma não é o que apressadamente estão pensando.
Morei mais de vinte anos em um casarão na rua Marechal Deodoro, chamada
comumente de “Marechal”, falava-se assim quando perguntavam aos que ali
residiam – moro na “Marechal”. Algumas pessoas diziam de má fé, “rua de gente
importante e filhos moleques”. Áureo Filho, dentista, professor, político; Martiniano
Carneiro, editor, escritor, ator, comerciante; Sílio Soledade, tabelião,
político; Soares, gerente do Banco da Bahia, Arnaldo Bacelar, dono do maior
hotel da cidade; Tuta Reis, músico; Coronel Pedra, delegado; Mario Borges
médico, Jovino Almeida comerciante, Anacleto Silva, pai de Zé Olímpio e
Tonheiro; Elmano Portugal comerciante de carnes, e tantos outros que não
lembro.
Na realidade nunca tive certeza da rua onde morava, era uma esquina e
para a Marechal só tinha janelas, oito enormes. Ao lado era o beco, ligava a “Marechal”
à Av. Senhor dos Passos, seguindo em direção à rua Direita (Conselheiro
Franco), tinha o Beco da Energia, era um ele, seguindo
chega no “Beco do Mocó”. No sentido inverso o “Beco do Ginásio”. Ao lado do
nosso casarão era onde tinha o acesso: porta principal, portão de serviço e
garagem, neste lado tinha duas “casas de mulheres” Juninha se não me engano e
Maria Picolé - uma das duas PHD em sexologia prática, a outra era Fausta da Rua
do Meio patronas dos “deZcaminhos” de dezenas de jovens – voltemos para a
dúvida do meu endereço, socialmente “Marechal”, mas a entrada era: “Beco de
Maria Picolé”. Coronel Pedra, delegado naquela época, quis remover as mulheres
do Beco, minha mãe não deixou, elas eram muito respeitosas.
O Casarão tinha o consultório de dentista de meu pai com três
dependências, sala de espera; gabinete de atendimento e uma saleta para
trabalhos de próteses (naquele tempo o dentista fazia tudo); um salão de
visitas, sabem antigamente havia visitas cotidianamente; salão de jantar; três
quartos, um de meu pai, outro para visitas e outro para emergências; no segundo
pavimento do Casarão tinha mais cinco quartos três ao lado da casa vizinha e
dois de frente para o “Beco”, para se ter uma ideia do tamanho dos aposentos o
maior quarto do segundo andar, quando meu pai desativou o Internato do
Santanópolis, havia dezesseis alunos que não tinham achado acomodações na
cidade, minha mãe comprou oito beliches e acomodou todos neste quarto grande,
em menos de seis meses todos foram para as “repúblicas” e pensões da cidade.
Meu quarto dava para o beco, eu sentava no parapeito da janela, lá no
alto, se ficasse na direção da “Marechal” via o movimento do “Beco da Energia,”
no sentido da Av. Senhor dos Passos, assistia tudo do “Beco do Ginásio”. Nós
garotos da “Marechal”, tínhamos amigos filhos das madames dos becos. Como em
todo lugar tinha garotos que se tornaram marginais, lembro de Pepino, preso
várias vezes, terminou assassinado. Mas excelentes amigos, uma vez Pepino, era
muito forte e “Duas Cabeças” um garoto mirrado apanhou umas pedras me deu duas,
e nós dois enfrentamos Pepino, ele jurou forra.
Voltemos às mulheres famosas. Nos dias de segunda-feira à tarde, “Fogo Simbólico”,
era o codinome de uma mulher que era a sensação. Em uma tarde entrava no “castelo”
dois a três senhores, para os prazeres divinos, como diziam, ela fazia mágicas.
Morava na cidade de Cachoeira, vinha fazer “feira”, diziam ser casada com funcionário
importante lá na Heroica, como os cachoeiranos gostam de denominar sua cidade.
Alguns colegas de ginásio, às vezes pegavam no sono no beco do ginásio,
mas tinham a farda guardada e pulavam o muro do ginásio. Um dia deduraram um
deles para Professora Catuca, resultado todos nós fomos suspensos, por não termos identificado o dorminhoco.
Os
rapazes da “Marechal” tinham tanta má fama, que Professora Lourdes Brito,
mandava o filho, Noel Portugal, para casa de Zeca Portugal, tentando livrá-lo
das más companhias.
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