Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS PROFESSORES DO GINÁSIO SANTANÓPOLIS - 1934 e 1941

Dos vinte e quatro profissionais que passaram pelo Santanópolis, no período, identifiquei a formação de 18 deles, dentre estes, quatro mulheres – aproximadamente 22%. Não foi surpresa a ausência de professor licenciado por qualquer faculdade; primeiro porque a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, da faculdade da Bahia, só inicia seus trabalhos em 1939 e, até 1941, não havia tempo hábil para a formação de profissionais; segundo porque dificilmente teríamos profissionais de outras partes do país, quer seja pela distância e dificuldade de deslocamento, quer seja porque havia carência de professores com essa formação em todo o território nacional.
No que se refere à formação, é possível observar o predomínio dos doutores no quadro de professores. Estes são 10 dos 22 encontrados, sendo quatro médicos, dois advogados, três dentistas e um engenheiro. Todos esses profissionais possuíam registro na divisão e ensino secundário. Dois deles, o Doutor Gastão Clóvis Souza Guimarães, que também era médico da escola – realizando o exame físico dos alunos e alunas – e o Doutor Renato Santos Silva, eram professores da Escola Normal de Feira de Santana no período. Essa realidade do Santanópolis era a realidade das escolas de ensino não elementar no período, principalmente porque as faculdades destinadas à formação de professores para o ensino secundário era uma política recente. Além desse aspecto, como observa Gatti, [...] fazendo uma pequena digressão histórica sobre a formação de professores no Brasil, lembramos que a formação de docentes para o ensino das ―primeiras letras em cursos específicos foi proposto no final do século XIX com a criação das Escolas Normais. Estas correspondiam à época ao nível secundário e, posteriormente, ao ensino médio, a partir de meados do século XX. (GATTI, 2010, p.1356). Sendo os primeiros profissionais com formação específica para o exercício do magistério, e havendo em Feira de Santana, desde 1926, a Escola Normal Rural de Feira de Santana, além de outras escolas na capital e no interior, era de se esperar a presença destes no quadro de professores da instituição; eram quatro os professores com formação por escolas Normais. Da Escola Normal Rural de Feira de Santana, encontram-se a professora Hermengarda de Oliveira, irmã do Dr. Áureo Filho, e o professor Antonio de Oliveira Mattos. Outra Normalista, professora Edelvira de Oliveira – a professora Catuca – também irmã do Dr Àureo, diplomou-se pelo Educandário Sagrado Coração de Jesus, da capital do Estado, e o professor Antonio Augusto da Garcia, adjetivado ora de lente, ora de catedrático pelo Jornal Folha Norte do qual era redator, obteve sua formação na Escola Normal de Homens, na capital do Estado.
Os dois tenentes do exército que fizeram parte do quadro docente foram o senhor Abdon Diocleciano de Souza, no período de 1934 a 1936, que cursou a academia militar e fez o Curso de humanidades no Gymnasio da Bahia, e o senhor José Joaquim Saback sobre quem não foram encontradas maiores informações. Decerto que um professor em especial deve ter impactado a escola e porque não dizer, até a cidade. O Santanópolis possuía um professor estrangeiro, o americano George Malcoln Cadogan, funcionário da Empresa Guinle & Cia, que construiu a barragem de Bananeiras na região de Cachoeira, vinha de trem duas vezes na semana para dar aulas. Não foram encontradas muitas informações sobre esse professor no que se refere à sua formação. Entretanto, o fato de ser americano com um curso técnico em sua formação, considerando o contexto, o professor Cadogan parecia apresentar requisitos suficientes para lecionar a língua inglesa na instituição.
Embora Joselito Amorim também fosse tenente do Exército, essa denominação não aparecia nos documentos da escola nem nas matérias dos jornais; por esta razão, optei por destacar a sua formação como ex-aluno da instituição.
O que as fontes nos apresentam como realidade na implantação do Santanópolis em Feira de Santana é uma situação que deve ter se estendido por todo o país e, prevista pela Lei que, embora anunciasse uma formação ideal, abria possibilidade para outras entradas no magistério secundário. Nesse caso específico, é possível observar a predominância dos doutores, seguidos pelas normalistas e pelos normalistas, além da utilização de profissional formado pelo próprio estabelecimento, como é o caso de Joselito Amorim. No período seguinte, eles serão maioria no quadro docente do estabelecimento. Não havendo profissionais de nível superior com formação específica para o magistério, o caminho trilhado pelo estabelecimento a fim de atender às normas estabelecidas pela Reforma Francisco Campos foi buscar o registro Junto ao órgão responsável; para tanto, além das provas de identidade, idoneidade moral e idade, os candidatos ao exercício do magistério secundário poderiam ser aprovados em instituto oficial de ensino secundário e superior no Brasil ou no exterior desde que a disciplina para a qual o registro estava sendo solicitado estivesse de acordo com a formação. Era legal também requerer o registro com base em títulos e diplomas científicos possuídos pelo requerente, além da produção científica publicada na área. Outra possibilidade, era a prova de exercício regular no magistério por pelo menos dois anos. Não bastasse toda essa flexibilização, o parágrafo único do artigo 69 da Reforma, referindo-se às condições determinadas na letra ―d, que se refere à aprovação em Instituto de ensino secundário ou instituição de nível superior na área da disciplina de interesse do requerente, admite que [...] O documento a que se refere este artigo na letra (d) poderá ser substituido por qualquer título idôneo, a juizo de uma comissão nomeada pelo ministro da Educação e Saude Pública e constituida por 3 professores do magistério secundário oficial e 2 do equiparado. (BRASIL, 1931).
Diante dessas condições, os professores do Santanópolis conseguiam seus registros por serem possuidores do título de doutor (médicos, advogados, engenheiros), por terem formação em instituto de ensino secundário e por possuírem experiência no magistério. Alguns deles tiveram essas experiências registradas em seu currículo, como foi o caso do Padre Amílcar Marques de Oliveira, que foi professor de História Universal do Seminário Santa Thereza, em Salvador; do Tenente Abdon que, segundo as fontes, possuía exercício contínuo no magistério; o professor Antônio Garcia, que apresentou vasta experiência no magistério como ex-lente, substituto de História do Brasil, Direito Pátrio e Legislação do Ensino do Instituto Normal do Estado, hoje, Escola Normal da Bahia, Ex-professor do Collégio Spencer, do Collégio Americano Egydio, além de outros estabelecimentos de ensino da Capital. Foi também professor particular de Língua Nacional, Geografia e História. (FOLHA DO NORTE, de 03/02/1934 nº 1281, p.1). A professora Edelvira de Oliveira agrega a seu currículo ao fato de ser professora primária, concursada, da Escola João Florêncio em Feira de Santana. O professor Antônio Mattos informa seu exercício no Magistério. À professora Izabel Alexandrina, é referido seu exercício contínuo no magistério público em várias escolas oficializadas do Estado. A professora Maria da Cruz Cunha, de quem não se apresenta nenhuma experiência no magistério, traz como título a autoria do Compendio de Música para uso das Escolas Primárias Brasileiras, premiado com medalha de ouro na exposição de 1908. O professor Claudio Luiz Santiago, que consta como pastor protestante se credenciava por ter exercido o magistério no Estado da Parahyba. O professor Renato Santos Silva é apresentado como Professor da Escola Normal Rural de Feira de Santana. Essas informações nos apresentam dados interessantes sobre o que foi considerado para a habilitação desses professores perante a Lei. Com exceção do doutor Renato Silva, nenhum dos outros doutores apresentaram a experiência no magistério. Vale lembrar que o título científico já lhe dava condições acadêmicas para adquirir o registro na Divisão de Ensino Secundário. Sabemos porque é de domínio público que o Dr. Gastão Guimarães foi professor da Escola Normal de Feira de Santana, a qual desde 1962 tem o nome de Instituto de Educação Gastão Guimarães (IEGG) no mesmo período. Dos Normalistas, foram ressaltadas sua experiência no magistério e, da professora de música, a produção na área. Considerei essa uma amostra significativa para concluir que, para constituir corpo docente da instituição, foram utilizadas várias possibilidades garantindo profissionais residentes em Feira e até em cidades próximas. Pude concluir, também, que o perfil do professor para o colégio Santanópolis, seguindo a cultura da política educacional brasileira de fazer de improviso, seguiu a tradição nacional, considerando que Até as primeiras décadas do século XX, os professores do ensino secundário no Brasil eram autodidatas como profissionais da educação. A formação em curso superior e a especialização para lecionar uma única disciplina foi um processo longo, que ganhou força com a reforma Francisco Campos em 1931, ao instituir no Decreto n. 19.890 a necessidade de formação docente para este nível de ensino e o registro dos professores secundários no Departamento Nacional do Ensino. A criação de um curso para a formação de professores secundários na Universidade de São Paulo foi sucedida pela implantação de novos cursos com a mesma finalidade nas universidades brasileiras que se organizavam. (SANTOS, 2013, p.3-4). 223
Não faltaram vozes nas primeiras décadas do Século XX criticando a forma de recrutamento de professores para o ensino secundário; uma dessas foi a de Carlos Werneck, professor catedrático de História Natural da Escola Normal do Distrito Federal, que expressou: [...] Não raro são medico, engenheiros, advogados, que dão ao ensino as horas de lazer, o tempo vago. Que se pede a um professor de historia natural, de hygiene ou de mathematicas? Que seja medico ou engenheiro basta a maioria dos directores de collegio. Que se requer de um professor de francez ou inglez? Que saiba falar e ler essas línguas. Que as saibam ensinar pouco importa. E elles próprios as ensinam cada qual como lhes deu na cabeça, sem norma, sem methodo. [...] Para crear o magistério de carreira torna-se imprecindivel a criação de uma Escola Normal Superior que faça professores. (WERNECK 1929 p, 121 apud, SANTOS, 2013.p.7-8). Da Bahia, de acordo com Santos, o diretor do Colégio Ipiranga, Isaías Alves acentuou a necessidade de criação de uma instituição para a formação dos professores do ensino secundário, no seu entender fundamental para que as reformas se traduzissem em efetivas mudanças, e que evitaria que profissionais sem vocação e preparo para o magistério lecionassem nas escolas, tornando os alunos vítimas de seus erros. (SANTOS, 2013, p.7-8). Sem curso específico para a formação para o ensino secundário podemos imaginar que esses professores faziam o curso secundário do Santanópolis enquanto se faziam professores do ensino secundário. Mesmo os oriundos das escolas normais, que tinham uma maior intimidade com os saberes voltados à docência, tinham um saber específico para lidar com um tipo de escola muito diferente com suas especificidades, ainda que essa experiência fosse um elemento importante na construção desse tipo docência. Acredito que os professores do Santanópolis, em sua maioria, tornaram-se professores secundaristas com a própria escola. Fizeram-na escola de ensino secundário de referência no interior da Bahia enquanto se faziam professores no processo de escolarização e esta repousa basicamente sobre interações cotidianas entre os professores e os alunos. Sem essas interações a escola é nada mais que uma imensa concha vazia. Mas essas interações não acontecem de qualquer forma: ao contrário, elas formam raízes e se estruturam no processo do trabalho escolar e, principalmente do trabalho dos professores sobre e com os alunos. (TARDIFF, 2005, p.53).
Dessa forma, os professores dos primeiros anos, formando-se professores, formaram os quadros que paulatinamente vão ocupando a docência no Santanópolis. O primeiro deles, ainda na década de 1940.

FORMAÇÃO
QUANTIDADE
PERCENTUAL
Médico
4
16,5
Advogado
2
8,4
Dentista
3
12,5
Engenheiro
1
4,2
Normalista
4
16,6
Secundarista
1
4,2
Musicista
1
4,2
Não identificado Musicista
5
20,8
Tenente do Exército
2
8,4
Técnico em Barragens hidrelétricas
1
4,2

TOTAL
24
100

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