Em 1948, o avô leva Olney, sua mãe, Dona "Zali", e seus irmãos Valnei, Valdenei e Walneie, para morar em Feira de Santana, que neste período já era o entreposto comercial mais importante do sertão baiano. Ali o menino continua seus estudos no Colégio Santanópolis.
Algum tempo depois D. Zali se casa novamente e Olney ganha mais três irmãos - Carlos Antônio, Colbert Francisco e Alberto Ulysses. Olney se destaca no colégio, participando do grêmio, escrevendo sobre a cinema no jornal do colégio e afinal é escolhido orador da turma do ginásio.
A paixão pelo cinema nasceu com a chegada a Feira de Santana da equipe do diretor Alex Viany, em(1954), para filmar o episódio “Ana” do filme “Rosa dos Ventos” (Die Windrose), com roteiro de Alberto Cavalcanti e Trigueirinho Neto. Olney engaja-se na equipe durante todo o tempo em que esteve em Feira de Santana e, acompanha as filmagens e atua como figurante em algumas cenas. Em carta escrita a Alex Viany, em 05 de novembro de 1955, escreve: “Eu sou um jovem que tem inclinação invulgar para o cinema. Porém, como neste mundo aquilo que desejamos nos foge sempre da mão, eu luto com incríveis dificuldades para alcançar o meu objetivo”.[1]
Em 1955, é redator do jornal "O Coruja". Sob o pseudônimo de Conde D'Evey escreve sátiras e críticas ao colunismo social de Feira de Santana, na coluna Causerie, para desgosto da burguesia local. Escreve também sobre literatura e artes. Também cria e dirige o programa “Cinerama” na Rádio Cultura de Feira de Santana, onde comentava filmes em exibição e novidades da produção mundial. Leciona Contabilidade Pública e a Organização Técnica Comercial na Escola Técnica de Contabilidade da cidade. No mesmo ano, é aprovado no concurso do Banco do Brasil. No ano seguinte, leitores ofendidos forçam Olney a encerrar a coluna Causerie. O programa de rádio também chega ao fim.
Na impossibilidade de realizar produções cinematográficas escreve sobre casos e fatos - alguns verídicos, outros imaginários - transformando-os em novelas e contos, escritos em estilo cinematográfico, abordando temas nordestinos - o misticismo, a magia do seu povo, personagens e histórias do sertão reconstruídas em narrativa linear, encadeada à moda do cancioneiro popular -, registrando o linguajar regional do catingueiro.
Ainda em 1955, com fotógrafo Elídio Azevedo, produz seu primeiro curta-metragem - “Um crime na feira”. Com uma filmadora 16mm Kodak antiga e, coletando dinheiro entre os amigos, compra os negativos. Filma o roteiro em sequência linear, efetuando os cortes com as paradas na própria câmera, já que não dispunha de moviola. Finalizado entre 1956 e 1957, com dez minutos de duração, o filme é exibido em clubes de Feira de Santana e outras cidades do interior da Bahia, acompanhando espetáculos teatrais que o próprio Olney organizava, pela Associação Cultural Filinto Bastos. Nessa época, Olney cria a Sociedade Cultural e Artística de Feira de Santana (SCAFS) e o Teatro de Amadores de Feira de Santana (TAFS).
Em maio de 1956, conquista a Menção Honrosa do Concurso de Contos da revista “A cigarra” do Rio de Janeiro, com o conto “Festim à meia-noite”. Em outubro do mesmo ano, conquista outra Menção Honrosa, desta vez com o conto “A última História”.
Começa a se interessar pela obra de Jorge Amado. Escreve-lhe algumas cartas, entre 1956 e 1957, pedindo informações sobre o andamento das filmagens de algumas de suas obras.
Em 1958, Olney é baleado pelas costas pelo amigo Luiz Navarro. Ambos disputavam a jovem Maria Augusta. Navarro diz que foi acidental. O ferimento perfura seu pulmão esquerdo.
Em 1959, durante uma viagem a Maceió, Alagoas, adquire uma câmera Bell & Howeel. Escreve o roteiro do documentário “O Bandido Negro”, sobre um personagem da literatura popular, Lucas de Feira (1804-1849), chefe de um bando terrível, que assolou a região de Feira de Santana, realizando saques e assaltos e também lutou pela abolição da escravatura na Bahia. Escreve também o roteiro do O vaqueiro das caatingas”, ambos os roteiros não concretizados por falta de recursos.
[editar] Encontro com o Cinema Novo
Em 1961, o diretor Nelson Pereira dos Santos vai a Feira de Santana com a intenção de realizar as filmagem de Vidas Secas, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Os planos são modificados em razão das chuvas torrenciais que atingem a reunião, e o diretor é obrigado a improvisar um outro roteiro, que resultará no filme Mandacaru Vermelho, rodado em Juazeiro, na Bahia. Nesse filme, o jovem Olney atua como continuísta da produção, assistente de direção, produção além de também compor o elenco. Terminada a filmagem, que se prolongou por Feira de Santana, Olney e Nelson tornam-se grandes amigos.A experiência de Mandacaru Vermelho marcará de fato a integração de Olney ao grupo pioneiro de cineastas do Cinema Novo.
Na véspera do natal de 1961, casa-se com Maria Augusta Matos Santana. Ainda naquele ano, começa a escrever e dirigir a revista literária, "Sertão" (1961-1963.
Em janeiro de 1962, nasce seu primeiro filho, Olney São Paulo Junior. No mesmo ano, Olney participa como assistente de direção de O caipora, de Oscar Santana, rodado em Riachão do Jacuípe, nas Zonas de Pé-de-Serra, Chapada e Beira do Rio. .[2] Também na mesma época, em Salvador, estabelece contato com a geração liderada por Glauber Rocha.
A formação cinematográfica de Olney é influenciada pelo neo-realismo italiano, e por filmes de guerra e western americanos. Seus principais inspiradores foram John Ford, Vittorio de Sica, Roberto Rosselini, Giuseppe De Santis, Augusto Genina e Pietro Germi. Estudou também as idéias de Vsevolod Pudovkin, sobre montagem cinematográfica, e foi leitor dos escritos de Georges Sadoul, sobre a história do cinema.
Realizou seu primeiro longa metragem, O Grito da Terra, em (1964), abordando a realidade do nordeste brasileiro. Entre a pré-produção do filme e o início das filmagens, nasce seu segundo filho Ilya Flayert. Nelson Pereira do Santos e Laurita dos Santos são os padrinhos do menino. As filmagens iniciam-se em novembro de 1963. Para compor a cenografia do filme, Olney conta com colaboração dos comerciantes de Feira de Santana, que emprestaram móveis, roupas de cama, utensílios e adereços. O figurino era constituído por roupas dos próprios atores ou emprestado por amigos. A pré-estreia do filme ocorre no dia 27 de novembro de 1964, com apresentação do o cineasta Orlando Senna. Entre 1965 e 1967, o Grito-da-Terra é exibido no Rio de Janeiro, Salvador, Aracaju e Recife. Participa do I Festival Internacional do Filme de Guanabara, do Festival do Cinema Baiano, em Fortaleza, e da Noite do Cinema Brasileiro, organizada pela embaixada dos EUA, em dezembro de 1965. No entanto sofre cortes pela Censura Federal, pois um personagem faz menção à volta do Cavaleiro da Esperança, Luiz Carlos Prestes, membro do Partido Comunista Brasileiro. Por conta do corte, o produtor Ciro de Carvalho, convidado pelo Itamarati, não aceita que o filme represente o Brasil em festivais internacionais. Os produtores recebem prêmio do governo de Carlos Lacerda, o que lhes possibilita saldar dívidas bancárias e confeccionar uma nova cópia do filme, sem cortes, e exibi-la nos principais cinemas do nordeste.
"Manhã Cinzenta" é realizado entre 1968 e 1969. Junto com Fernando Coni Campos, Olney decide registrar alguns acontecimentos da época, com sua câmera 16mm, a partir do seu conto homônimo, escrito em 1966, e da documentação feita por José Carlos Avellar, sobre protestos de rua. Para driblar a censura, confecciona várias cópias do filme enviando-as para cinematecas de outros países e para os festivais de Viña del Mar (Chile), Pesaro, Cannes e Mannheim.
[editar] Prisão e censura
Na manhã do dia 8 de outubro de 1969, ocorre o primeiro sequestro de um avião brasileiro, por membros da organização MR-8. O avião é desviado de Cuba. Um dos sequestradores é membro da diretoria da Federação Carioca de Cineclubistas, presidida na época por Sílvio Tendler. “Manhã Cinzenta” é exibido a bordo. Olney é vinculado pelas autoridades brasileiras ao sequestro. É detido e levado para local ignorado, ficando incomunicável por doze dias. Liberado, em 5 de dezembro é internado, com suspeita de pneumonia dupla. Em 25 de dezembro, muito debilitado psíquica e fisicamente, passa alguns dias com a família e é internado novamente.Os negativos e cópias de "Manhã Cinzenta" são confiscados. Mas uma das cópias do filme é salva por Cosme Alves Neto, então diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e ficou por vinte cinco anos escondida na Cinemateca do MAM. Assim, embora proibido no país pela Censura Federal, o filme foi exibido na Itália, no Festival de Pesaro, no Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar, na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, em 1970. Participa também da XIX Semana Internacional de Mannheim, conquistando o prêmio de melhor média-metragem, e é premiado no Festival de Oberhausen, na Alemanha, em 1972.
Olney realizou ainda, em 1970, o documentário O profeta de Feira de Santana, sobre o artista plástico Raimundo de Oliveira. A equipe é formada pelo produtor Júlio Romiti e Tuna Espinheira, como assistente de direção.
Em 11 de maio de 1971, nasce a filha de Olney São Paulo - Maria Pilar.
Em 13 de janeiro de 1972, o Superior Tribunal Militar, absolve definitivamente o cineasta das acusações de subversão da ordem, relacionadas ao filme Manhã Cinzenta.
Apesar da saúde debilitada, ainda realiza "O Forte", baseado no romance de Adonias Filho, longa metragem no qual se destaca a paisagem de Salvador, tendo como um dos protagonistas, o sambista e ator Monsueto Menezes, que morre durante a filmagem. O filme teve inúmeros problemas e as filmagens sofreram várias interrupções, que prejudicaram bastante a qualidade do resultado final. Com o filme "Pinto Vem Aí", sobre o ex-deputado Francisco Pinto, ganhou o prêmio Jornal do Brasil, em 1976.
Olney São Paulo morreu cedo, de câncer no pulmão, aos 41 anos.
[editar] Sobre o cinema de Olney São Paulo
De Glauber Rocha, em seu livro Revolução do Cinema Novo (Rio de Janeiro. Alambra/Embrafilme: 1981, p. 364):"Olney é a Metáfora de uma Alegorya. Retirante dos sertões para o litoral – o cineasta foi perseguido, preso e torturado. A Embrafilme não o ajudou, transformando-o no símbolo do censurado e reprimido. "Manhã Cinzenta" é o grande filmexplosão de 1968 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos udigrudistas (...) Panfleto bárbaro e sofisticado, revolucionário a ponto de provocar prisão, tortura e iniciativa mortal no corpo do Artysta.
De Nelson Pereira dos Santos:
A imagem que guardo do meu compadre é uma síntese daquele documentário que ele fez sobre os sábios do tempo, os velhos sertanejos que dominam sistemas ancestrais de medição meteorológica [Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva (1976)]. Vejo-o de chapéu de couro, no raso da caatinga, conversando com os ventos, para saber de onde vêm e para onde vão.
[editar] Filmografia
- Curtas
- Um crime na rua (1955), 16 mm, 10 minutos,p&b, roteiro, direção e ator.
- O profeta de Feira de Santana (1970), 35 mm, 8 minutos, cor, roteiro, montagem, diretor e co-produtor.
- Cachoeira: documento da História (1973), 35 mm, 9 minutos, cor e p&b, roteiro, montagem, diretor e co-produtor.
- Como nasce uma cidade (1973), 35 mm, 10 minutos, cor e p&b, roteiro,direção e produção.
- Teatro brasileiro I : origem e mudanças (1975), 35 mm, 12 minutos, cor, roteiro e direção.
- Teatro brasileiro II: novas tendências (1975), 35 mm, 11 minutos, cor, roteiro e direção.
- Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva (1976),16 mm, 13 minutos, cor, roteiro e direção. Argumento: inspirado na crônica de Eurico Alves Boaventura. Câmera de Edgar Moura.
- A última feira livre (1976), 16 mm, cor, direção. Roteiro de Hermínio Lemos. Câmera de Edgar Moura.
- Médias
- Manhã cinzenta (1969), 35 mm, p&b, 21 minutos, roteiro, direção e produção. Câmera de José Carlos Avellar.
- Pinto vem aí (1976), p&b, 25 minutos, roteiro e direção. Câmera de Edgar Moura.
- Dia de Erê (1978), 16 mm, 30 minutos, cor, roteiro e direção. Câmeras de Ronaldo Foster e Walter Carvalho.
- Longas
- Grito da terra (1964), 35mm, 80 minutos,p&b. roteiro e direção. Argumento:romance homônimo de Ciro de Carvalho Leite. Câmera de Leonardo Bartucci. Trilha Sonora de Fernando Lona.
- O forte (1974), 35 mm, 90 minutos, cor, roteiro e direção. Argumento: romance homônimo de Adonias Filho.
- Ciganos do nordeste (1976), 16 mm, 70 minutos, cor, roteiro, direção e produção. Câmera de Edgar Moura. O filme foi concluído em 1978, depois da morte do cineasta, pelos amigos Orlando Senna e Manfredo Caldas, seguindo as orientações deixadas por Olney São Paulo.
- O Amuleto de Ogum (1974)
[editar] Referências
[editar] Ligações externas
- Miguel Carneiro. "A lembrança da perda na poesia de Olney São Paulo Junior"
- Miguel Carneiro. "Olney São Paulo: um canto desesperado ao amor e à liberdade"
- Memória da Censura no Cinema Brasileiro 1964 - 1968
[editar] Bibliografia
- JOSÉ, Ângela - Olney São Paulo e a peleja do cinema sertanejo. Quartet, São Pulo: 1999, 208 páginas.
- SÃO PAULO, Olney - A Antevéspera e o Canto do Sol. José Álvaro Editor, 1969. Prefácio de Alex Viany.
Correções, Olney só foi professor do Santanópolis, e de matemática. Técnicas comerciais foi apenas substituto, por pouco tempo, era aluno excepcional. Não houve pressão para sair do Coruja, o jornal sim teve pressão, por motivo de um artigo policial transformado em problema político, fomos processados mas ganhamos. Eu ajudava Olney na coluna Causerie, daí pseudônimo "Conde D'Evey", EVandro OlnEY, na verdade era bondade de Olney para comigo eu só dava dicas.
ResponderExcluirOlney morreu cedo, contudo, deixou uma história de inteligência, luta, batalha, perseverança.Evandro, foi muito bom você ter homenagiado ele pelo Blog Santanópolis. Tive também contato com ele na época da Sociedade Cultural Artística de Feira de Santana (SCAFS),fazia parte do grupo teatral.
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